“AQUELES QUE
AMAMOS NUNCA MORREM!”
A AUSENTE
*** Não deixe que suas
lágrimas, por mais sentidas e justas que sejam, turvem sua visão,
impossibilitando que seus olhos vejam a vida com clareza e serenidade. Não
permita que sua dor, seja ela causada pelo motivo que for, o impeça de perceber
a beleza de cada momento.***
Há várias espécies de dores
capazes de atingir os corações humanos. Qual a mais intensa? Parece-nos ser
aquela que estamos sentindo no momento. Temos o costume de esquecer o passado e
valorizar o sentimento presente como se nada de pior já tivesse acontecido, ou
pudesse vir a acontecer. Isso é uma tendência muito natural do ser humano. Mesmo
assim, existem sofrimentos que se distinguem dos outros, e assumem perante a
maioria das criaturas uma condição de maior gravidade.
A morte de um ser querido, por
exemplo. Não há quem não se comova, sofra, sinta verdadeiramente quando um ser
amado abandona o envoltório corporal e parte para outro plano da vida. Pouco
importa se a desencarnação foi repentina, ou não; se foi violenta, ou serena. Não
interessa se aquele que partiu já contava com avançada idade, ou se ainda era jovem.
Não há como mensurar essa espécie
de dor. E cada um a sente, e reage a ela, de forma diversa. Há aqueles que se
entregam, blasfemam e se revoltam. Há outros que choram, mas que aceitam,
envolvendo suas dores no bálsamo da prece e da fé. Há, ainda, os que buscam
modos nobres e belos para render novas homenagens àqueles que já se foram.
Assim parece-nos ter agido o poeta
Augusto Frederico Schmidt, que toca nossos corações com os seguintes versos:
"Os que se vão, vão
depressa, Ontem, ainda, sorria na espreguiçadeira. Ontem dizia adeus, ainda da
janela. Ontem vestia, ainda, o vestido tão leve cor-de-rosa. Os que se vão, vão
depressa. Seus olhos grandes e pretos há pouco, brilhavam. Sua voz doce e firme
faz pouco ainda falava. Suas mãos morenas tinham gestos de bênção. No entanto
hoje, na festa, ela não estava. Nem um vestígio dela, sequer. Decerto sua
lembrança nem chegou, como os convidados. Alguns, quase todos, indiferentes e
desconhecidos. Os que se vão, vão depressa. Mais depressa que os pássaros que
passam no céu, Mais depressa que o próprio tempo, Mais depressa que a bondade
dos homens, Mais depressa que os trens correndo, nas noites escuras, Mais
depressa que a estrela fugitiva que mal faz traço no céu. Os que se vão, vão
depressa. Só no coração do poeta, que é diferente dos outros corações, Só no
coração sempre ferido do poeta. É que não vão depressa os que se vão. Ontem
ainda sorria na espreguiçadeira. E seu coração era grande e infeliz. Hoje, na
festa ela não estava, nem sua lembrança. Vão depressa, tão depressa os que se
vão..."
***
Não permita que sua dor, seja ela
causada pelo motivo que for, o impeça de perceber a beleza de cada momento. Não
deixe que suas lágrimas, por mais sentidas e justas que sejam, turvem sua
visão, impossibilitando que seus olhos vejam a vida com clareza e serenidade. Dedique
aos amores que partiram pensamentos otimistas e repletos de confiança no
reencontro futuro, sem desespero nem revolta. Se hoje, na sua rotina, pareceu-lhe
que ninguém notou a dor que lhe invadia intensamente o peito, saiba que nada,
nem mesmo nossas angústias, passam despercebidas ao pai. Confie, persista e
prossiga, sempre.
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