A LIÇÃO DA JORNADA DE JESUS RUMO
A ASCENSÃO
Começa a grande jornada, descrita
com pormenores, da iniciação a que Se submeteu Jesus. João, com sua agudeza
crítica, começa a levantar o véu de tudo o que se vai passar, com aquela frase
simples, mas profundamente reveladora: "a princípio Seus discípulos não
entenderam isso; mas quando Jesus se transubstanciou (doxázâ), então se
lembraram de que isso estava escrito sobre ele e do que havia sido feito".
Ora, o evangelista não diz "nesse momento eles não entenderam", mas
sim "a princípio", o que denota que só bastante tempo depois, e
"quando Jesus se transubstanciou" é que conseguiram compreender. As
traduções correntes trazem: "quando foi glorificado". Mas quando é
que Jesus foi glorificado na Terra? A transubstanciação, sim, houve, após a
ressurreição e a chamada "ascensão", que estudaremos a seu tempo. Mas
fixemos que só então os discípulos compreenderam o sentido dessa entrada em
Jerusalém montado num jumentinho que jamais recebera jugo. Hoje, após a
transubstanciação, é fácil deduzir as razões do fato. O Espírito (Jesus, a
Individualidade) vai submeter-se à iniciação maior na cidade-santa. O
Sacerdote-Vítima caminha para o altar do holocausto, onde será imolado qual
"cordeiro pascal", sem mancha, sem defeito. Mas só a parte animal de
seu ser poderá submeter-se ao sacrifício. Preciso é, pois, que haja um símbolo,
demonstrando que essa parte animal (Seus veículos físicos, que sofrerão o
holocausto), estava intata, imune do jugo de qualquer imperfeição. O símbolo foi
o jumentinho, sobre que nenhum ser humano tivera domínio. Além disso, releva
notar o simbolismo esotérico do ato em si. Tinha que ficar patenteado por um
ATO externo, que a criatura só pode pretender submeter-se às provas do quinto
grau iniciático, quando tiver dominado totalmente a personalidade animal. E o
símbolo escolhido é perfeito: Jesus monta sobre o jumento, dominando-o e
subjugando-o totalmente, e recebendo por isso a consagração e as
"palmas" da vitória.
Esta é a única vez que lemos ter
Jesus montado num animal: no momento supremo em que Se dirigia ao Santuário
para imolar-Se, conquistando o grau de "Sumo Sacerdote segundo a Ordem de
Melquisedec", conforme lemos: "Ele, nos dias de sua carne (durante
Sua vida física) tendo oferecido preces e súplicas com forte clamor e lágrimas
ao Que podia libertá-lo da morte, e tendo sido ouvido por Sua reverência,
aprendeu, embora fosse Filho, a obediência, por meio das coisas que sofreu
(martírios e crucificação) e, por se ter aperfeiçoado (recebendo o grau da iniciação
maior), tornou-se autor da libertação para este eon de todos os que a Ele
obedecem, sendo por isso chamado por Deus SUMO SACERDOTE DA ORDEM DE
MELQUISEDEC" (Hebr. 5:7-10).
Toda a alegria e festa popular
não penetraram no imo do coração do Mestre, que continuava triste, chegando a
chorar pelo que antevia dever suceder a Jerusalém (vê-lo-emos dentro em pouco).
Sabia que todos endeusavam a personagem transitória, e que os gritos de alegria
eram apenas exterioridades emotivas: aqueles mesmos gritariam, dias mais tarde,
"mata-o, crucifica-o"!
Assim, qualquer criatura que
tiver em torno de si multidões ululantes de alegria, endeusadores contumazes a
bater palmas, feche seus olhos e mergulhe dentro de si mesma. As demonstrações
de entusiasmo provocam a queda daqueles que vivem ainda voltados para fora, a
procurar com os olhos a aprovação dos homens e a buscar o maior número de
seguidores. Trata-se de uma das provações mais árduas e difíceis de vencer. Os
elogios embriagam mais que o vinho, dão mais vertigens que as alturas e jogam
no abismo mais rápido que as avalanchas. E isso porque, na realidade, os
elogios emotivos trazem ondas torrentosas de fluidos pesados, que derrubam no
precipício da vaidade todos aqueles que os recebem com o mesmo sintoma de emotividade
satisfeita. Quantos vimos cair, ruindo por causa dos elogios! Jesus, o modelo
da Individualidade, já estava imune aos gritos louvaminheiros. Não obstante,
não os impede, não os proíbe; não repreende a multidão, como queriam que o
fizesse os fariseus: "moderados"!
“Não adiantaria, responde Jesus
tranquilo e frio: as próprias pedras gritariam”! Como? E por quê? Hipérbole,
não há dúvida, bem no estilo oriental. Todavia, o plano astral naquela região e
naqueles dias devia estar vibrante de expectativa. E sendo o povo judeu, como
sempre ficou demonstrado através dos séculos, altamente sensitivo, com a
mediunidade à flor da pele, não há dúvida de que a manifestação dos
desencarnados deve ter influído fortemente os encarnados. Para o Mestre, que
percebia o plano astral e sua vibração e agitação inusitada, devia ter-se
afigurado que, se os seres animados fossem impedidos de manifestar os
desencarnados e elementais, os próprios seres inanimados saltariam
rumorosamente de alegria. Mas o exemplo é precioso para todos nós, sobretudo em
certas fases de nossa vida, quando um grupo de criaturas, voluntariamente ou
não, com consciência do que estão fazendo ou não, se reúne em redor de nós com
a intenção de derrubar-nos. E para consegui-lo mais fácil e rapidamente, usa o
melhor instrumento de sapa que pode existir na Terra: o elogio. É mister
compreender que a personagem transitória nada vale, porque passa apenas alguns
minutos na Terra. Só o Espírito eterno é que conta. E ele não é afetado por
esse gênero de encômios barulhentos: o único aplauso que aceita é o da própria
consciência, segura de que está cumprindo seu dever. PENSEM NISSO!
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