A Matança dos Inocentes - ABORTO


A MATANÇA DOS INOCENTES - ABORTO - AUSÊNCIA DE ÉTICA E MORAL
J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

Chico Xavier conta-nos como foi recebida uma mensagem na reunião pública de 7 de março de 1972, em Uberaba. Eis as informações textuais que nos enviou:

“Duas senhoras se manifestam desejosas de conhecer que opinião seria a dos amigos espirituais de sempre acerca do aborto. E falaram com bastante conhecimento de causa sobre o que vai ocorrendo em outros países que se regem por leis diferentes das nossas. Outros temas sobre maternidade, filhos, familiares e vida doméstica afastaram o assunto inicial. Mas, no desenrolar das tarefas da noite, a pergunta que nos veio em O livro dos espíritos, para estudo, foi a que tem o número 358, e o problema do aborto voltou ao exame de todos os presentes. Ao término da reunião, Emmanuel escreveu a página que lhe entrego com estas notícias.”

Respondendo a pergunta 358, os espíritos afirmam, no livro citado, que o aborto é um crime, mas na pergunta seguinte fazem uma ressalva quando se trata de salvar a vida da mãe. Na mensagem de Emmanuel verificamos que o problema é colocado nesses mesmos termos. O sacrifício da criança que vai nascer só pode ter uma justificativa, a preservação da vida materna, naturalmente em casos extremos. Não há necessidade de argumentos metafísicos para se compreender isso. Um ser que nasce é um destino que se inicia na Terra. Seja glorioso ou não, segundo o juízo humano, esse destino, por mais obscuro, corresponde sempre a uma necessidade vital, a uma exigência da evolução.

Conta-nos o evangelista Mateus o episódio da matança dos inocentes em Belém, por ordem de Herodes, com o fim de aniquilar o mais glorioso destino que já se desenrolou na Terra. Foi uma tentativa de aborto após nascimento, pois, não tendo podido ordenar o aborto fisiológico, Herodes tentou o aborto histórico do destino do Cristo. Os inocentes sacrificados em Belém dão-nos a imagem brutal das consequências de cada crime dessa espécie para a humanidade. Centenas de destinos que se ligavam ao do nascituro são afetados pelas mãos assassinas que o imolam.

Não faltaram nesse episódio evangélico os traços marcantes de cada crime de aborto praticado na Terra. Uma luz no céu anuncia o nascimento de Jesus. Os reis magos a seguem jubilosos através do deserto para verem a criança esperada, e leva a notícia a Herodes que devia também se alegrar com ela. Um anjo avisa José e o manda fugir com Maria e a criança para o Egito. Herodes finge alegrar-se, mas ordena a matança. Cada nascimento na Terra é precedido sempre de uma luz no céu (que é o desígnio espiritual determinado à ocorrência), do júbilo dos que o aguardam – mesmo à distância, no deserto das provas e expiações do destino –, da notícia levada aos que devem alegrar-se com ela e da presença do anjo que vela pelo inocente.

Mas, quando o crime do aborto é tentado ou se consuma, seu antecedente são sempre os do fingimento e da astúcia, originados pelo egoísmo e o comodismo de Herodes. O anjo nunca deixa de avisar os pais, tocando-lhes a consciência e o coração, ordenando-lhes a fuga, em defesa da criança, para longe das mãos assassinas que se aprestam para sacrificá-la. Alguns estudiosos do Evangelho desprezam essa alegoria de Mateus. Mas o ensino espiritual que ela encerra bastaria para mostrar às consciências cristãs e espirituais do mundo – independente da veracidade histórica do episódio – que as advertências divinas nunca faltam na Terra, aos que se deixam fascinar pelo canto da sereia das conveniências materiais.

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"
do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

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