AMOR E
DISCERNIMENTO
*** ...o amor não
pode provocar a queda moral do ser amado... É feito de carinho e
ternura, mas também de firmeza e retidão de caráter... ***
A mensagem de Jesus revela ao mundo
um Deus amoroso e cheio de compaixão. O Mestre afirma que toda a lei divina
resume-se no ato de amar a Deus, ao próximo e a si mesmo. Conclui-se que a
vivência do amor liberta e pacifica as criaturas. Certamente por isso é
instintivo no ser humano o desejo de amar e ser amado.
Nada é mais prazeroso do que passar
algumas horas junto às pessoas que nos falam de perto ao coração. Nossas
afeições mais caras, as que cultivamos com mais carinho, constituem consolo nas
provações da vida. Proporcionar alegria a alguém querido causa grande deleite.
Cada qual desenvolve e demonstra
afeto na conformidade de seu entendimento e possibilidades. O cientista que
gasta a vida buscando descobrir a cura de doenças evidencia amor à humanidade. Talvez
ele não tenha palavras doces e afáveis para os seus auxiliares. Pode ser que a
preocupação em bem cumprir sua tarefa o torne desatento às expectativas dos que
o rodeiam. Mas nem por isso sua extrema dedicação deixa de ser valiosa demonstração
de amor.
O professor sinceramente dedicado
ao ensino também exemplifica o amor. Quiçá seus pupilos o considerem rígido e
preferissem alguém menos exigente. É que identificamos mais facilmente o amor
com manifestações de ternura.
A mãe que abraça um filho nos
parece amorosa. Já um pai com postura de educador não transmite essa impressão
de candura. Mas urge reconhecer que a lei do amor não se resume em afagos, sorrisos
e pieguices.
Nossos companheiros de jornada,
amigos e parentes, são, antes de tudo, filhos de Deus. Seria pretensão nossa
imaginar que possuímos maior capacidade de amar do que a divindade. E o Pai
celestial, embora seu infinito amor, não deixa de permitir que as criaturas
cresçam mediante seu próprio esforço e trabalho.
Uma análise criteriosa da vida
revela que ela está em permanente transformação e aprimoramento. As espécies
animais, as plantas, a conformação do próprio planeta terra, tudo reflete
movimento e metamorfose. As sociedades terrenas gradualmente vão aperfeiçoando
seus códigos e valores. Assim, a lei do amor inclui a necessidade de
burilamento dos seres.
O amor a Deus deve pairar acima de
todos os outros sentimentos, pois ele é a origem e o sustentáculo do universo.
Se amarmos a Deus, e o mundo que ele criou está em aprimoramento contínuo,
devemos nos esforçar para entender as leis que o regem e nos aprimorarmos também.
Do mesmo modo, ao manifestar amor
por nosso semelhante, não podemos pretender furtá-lo das experiências
necessárias ao seu adiantamento. Essa compreensão da vida leva-nos a admitir a
necessidade de mesclar nosso afeto com parcelas de racionalidade e
discernimento.
O amor a um filho, aluno ou
amigo, nem sempre implica concordância com suas fantasias e aspirações. Com frequência
é necessário renunciar à alegria imediata de agradar nossos amores, em prol de
seu progresso e de sua felicidade vindoura. A mãe que se abstém de educar o
filho desobediente demonstra mais tibieza do que amor. Por outro lado, o mestre
que exige dedicação é mais precioso para os alunos do que um professor relapso.
O exercício do amor às vezes
exige sacrifícios, por contrariar os impulsos mais imediatos do coração. Esse
sentimento é feito de carinho e ternura, mas também de firmeza e retidão de
caráter. Afinal, sendo uma energia sublime, o amor não pode provocar a queda
moral do ser amado.
Walter de Carvalho extraído de Texto da Equipe de Redação do Momento
Espírita.
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