VISÃO DO VERDADEIRO ESPIRITISMO

ATITUDE ENÉRGICA por Sergio F. Aleixo [VISÃO DO VERDADEIRO ESPIRITISMO] 

***Considero estas colocações do membro da Associação dos Divulgadores do Espiritismo do Estado do Rio de Janeiro excelente! Vale a leitura e reflexão de todos!Faço minhas as suas palavras como seareiro, palestrante, articulador e escritor no Movimento Espírita Brasileiro!Não basta uma leitura ou outra, uma presença aqui e acolá em Casas Espiritas para se dizer Espirita. Muitos anos de estudo são requeridos. Razão pela qual os estudiosos, de fato e de direito, não entram em polêmicas e discussões inócuas. Não nos importamos em desagradar...a quem quer que seja.Viva o Espiritismo sem fronteiras!***
Eis o que nos diz o amigo e divulgador Sergio F. Aleixo sobre o movimento espírita em nosso país que ratifica e consolida o artigo anterior "Entendendo o Espiritismo" - Deturpações e Esclarecimentos por Walter de Carvalho- vide www.cbconsultores.blogspot.com.br:

“Chega de pieguice religiosa, de palestras sem fim sobre a fraternidade impossível no meio de lobos vestidos de ovelhas. Chega de caridade interesseira, de imprensa condicionada à crença simplória, de falações emotivas que não passam de formas de chantagem emocional. [...]. Não façamos do espiritismo uma ciência de gigantes em mãos de pigmeus. [...]. Remontemos o nosso pensamento às lições viris do Cristo, restabelecendo na Terra as dimensões perdidas do seu evangelho. Essa é a nossa tarefa.” J. Herculano Pires publicado no Jornal “Mensagem”. Setembro de 1975.

Estudo, prática e divulgação fiéis a Kardec, qualificados intelectual e, sobretudo, moralmente, é o de que necessita nosso movimento espírita. Já basta o tanto que dele alguns se têm beneficiado, sem nenhum compromisso com ele haverem jamais assumido de fato. Reitero meu respeito às instituições; às pessoas, mais ainda. Nunca, todavia, posso reiterá-lo aos erros em que podem incidir eventualmente. É dever de todo espírita sincero a advertência; fraterna, mas firme.

Em meio a essa inglória batalha política entre extremos opostos nas idéias (ainda que aliados, nas vias de fato, em minarem a obra de Jesus para a contemporaneidade), entrincheirado se encontra, na mente dos verdadeiros adeptos do espiritismo, o bom-senso kardeciano. E ele aguarda o quê? Que o nosso amor ao Espírito de Verdade promova às futuras gerações de espíritas o socorro de uma militância independente e desabrida, como foi a de Herculano Pires. Certamente que essas gerações não estão destinadas a suportar o peso nefando do óbolo maligno que foi depositado no gazofilácio dos melhores esforços da geração atual, por lideranças tão falsas quanto autoproclamadas, intoxicadas pelos devaneios da egolatria institucionalizada.

Não deixemos que o instinto gregário de nossa espécie continue nos levando ao que ela tem de pior: a imitação e a repetição dos papagaios. Fora! com os discursos institucionalizados, como aqueles desenvolvidos ao influxo do inaceitável Brasil: Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, obra em tudo catequética.

Não devemos esperar os tapinhas nas costas de uma aclamação ilusória, promovida pelos inimigos da capacidade crítica renovadora, da fé verdadeiramente raciocinada. Essa não é a vereda em que andaram nossos ilustres tutelares, chefiados pelo próprio Jesus, que, afinal, não morreu por falência múltipla dos órgãos vitais...Desagrademos, sim, tanto a gregos quanto a troianos. Cultivemos desdém pelo interesse imediato e trabalhemos com coragem, doa a quem doer, por um futuro que não faça a nós mesmos — reencarnacionistas que somos — o desfavor de reproduzir ainda um sem-número de vezes as mesmas estruturas do passado decrépito.

Tenhamos por certo que a doutrina, a Verdade mesma, está acima de qualquer instituição que a pretenda representar no organismo ainda viciado das sociedades humanas. A eterna doutrina espírita é a instituição por excelência. Primeira e inalienavelmente, é a ela que devemos estar vinculados, independentemente desta ou daquela casa, deste ou daquele guia ou presidente, porque acima de todos está Aquele que dirige este globo, que preside a regeneração que se opera: O Espírito de Verdade, isto é, Jesus Cristo.[1]

O que torna legitima a representatividade de qualquer órgão que se qualifique espírita é sua fidelidade incondicional à obra kardeciana, em cujo programa constam, mais que claros, explícitos, os preceitos do verdadeiro espiritismo.

Os dissidentes, portanto, não são os que discordam dessas ou daquelas instituições, bem como e, principalmente, das idéias de que elas se fazem campeãs. Os dissidentes são os que não respeitam a doutrina e, não satisfeitos em vampirizá-la, acusam de inferioridade e desequilíbrio os que, denunciando esse estado de coisas, seguem o exemplo de João Batista e de seu divino primo Jesus de Nazaré.

De norma, aqueles tais se defendem cultivando uma indiferença que fantasiam de virtude introspectiva. Querem aparentar uma superioridade e uma sabedoria que as menores coisas são capazes de desmascarar aos que com eles tiverem oportunidade de privar algum tempo. É um anticristianismo supor que podemos atingir a perfeição nos preocupando somente com o que ocorre em nós, entrincheirados numa caridade mercenária que, acreditamos ingenuamente, abrir-nos-á as portas do reino do céu, mas que apenas oculta o nosso egoísmo comodista e a nossa carência oportunista.

O fato é que toda casa não edificada sobre a rocha desabará, e toda planta que o Pai não plantou será arrancada.[2] Acima do institucionalismo humano das casas está a instituição divina da causa. Muito acima de quaisquer instituições está a instituição por excelência: a doutrina em sua integridade, consignada em letras de fogo na codificação espírita.

Em nosso socorro, podemos evocar a palavra segura do profeta Jeremias, cap. VI, vv. 13 a 16 e v. 18: “Desde o menor deles até o maior, cada um se dá à ganância, e tanto os profetas [muitos médiuns], como os sacerdotes [ciosos ocupantes de certos “cargos”] usam de falsidade. Curam superficialmente a ferida do meu povo [o movimento espírita], dizendo: Paz, paz; quando não há paz. Serão envergonhados porque cometem abominação sem sentir por isso vergonha; nem sabem que coisa é envergonhar-se... Assim diz o Senhor [O Espírito de Verdade]: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho [a obra de Kardec]; andai por ele e achareis descanso para vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos... Portanto, ouvi, ó nações [de quantos nos lerem], e informa-te, ó congregação [de verdadeiros irmãos espíritas], do que se fará entre eles [esses falsos adeptos do espiritismo]”.
Como disse Herculano Pires, a propósito do confuso monismo da “Teoria Corpuscular do Espírito”, de Hernani Guimarães Andrade:
"Se fosse apresentada como doutrina à parte, sem nenhuma ligação com o espiritismo, pouco nos interessaria. Mas, tratando-se de uma nova tentativa de reforma doutrinária, somos obrigados a encará-la com a devida firmeza".[3]

Pois bem! Demos aplicação geral a tais palavras de Herculano! Poderiam pensar o que quer que fosse se espiritualistas se dissessem. Como insistem, no entanto, em apresentar-se como retificadores e reelaboradores da obra de Kardec, identificando-se indebitamente como espíritas, temos de assumir uma atitude enérgica.

A bem de nós mesmos e das futuras gerações de espíritas, necessitamos de um espiritismo que se apresente como de fato é, ressaltando, cristalino, sem ambigüidades, das obras do mestre de Lyon, isento das manipulações de articulistas, médiuns e oradores prepostos. Temos de ressuscitar o slogan do lendário Clube de Jornalistas Espíritas de São Paulo, fundado por Herculano Pires aos 23 de janeiro de 1948, assim definido por J. Rizzini: “A doutrina espírita acima de tudo! Acima dos homens e das instituições, porque em nosso planeta nada é mais importante do que o espiritismo!”.

Dizia o filósofo de Avaré: "Precisamos de estudar Kardec intensamente, de assimilar os ensinos das obras básicas, de mergulhar nas páginas de ouro da Revista Espírita, não apenas lendo-as, mas meditando-as, aprofundando-as, redescobrindo nelas todo o tesouro de experiências, exemplos, ensinos e moralidade que Kardec nos deixou. Mas antes de mais nada precisamos de humildade para entrar no Templo da Verdade sem a fátua arrogância de pigmeus que se julgam gigantes. Precisamos de respeito pelo trabalho de um homem que viveu na Terra atento à cultura humana, assenhoreando-se dela para depois se entregar à
pesada missão de nos livrar da ignorância vaidosa e das trevas das falsas doutrinas de homens ignorantes e orgulhosos".[4]

Os que temem pecar por falar e pecam por se calar devem compreender que estão afastados da obra de Kardec e do evangelho de Jesus, sempre amigos do debate sincero, da análise e do estudo sérios, muito distantes dos dogmas ancestrais formulados pelo obscurantismo, aos quais servem com seu silêncio comprometedor. Por outra, se é verdade que o espiritismo quer ser estudado e refletido, não o é menos que dispensa a presunção daqueles que o querem retificar e reestruturar a pretexto de dinamizá-lo, afrontando sua lógica intrínseca. Ora! Não há nada mais vitorioso em face das atuais formulações do conhecimento e da cultura do que o trabalho de Allan Kardec.

Dinamizar o espiritismo é tarefa de quem, em princípio, o conhece muito a fundo; de quem o ama e tem competência intelecto-moral; de quem, por isso, sabe submeter as conquistas das diversas áreas do saber elaborado ao prévio esquema — aliás, insuperável — da eterna doutrina. Esse esquema, pela sua delicada natureza de refletida totalidade, permite uma criteriosa e abrangente articulação cultural expressando possibilidades jamais identificadas em qualquer sistema de pensamento organizado.

Logo se vê, tão-só por isso, que a tarefa de dinamização espírita não pode caber a vaidosos pseudo-sábios, os quais, ao contrário do que seria correto, submetem a doutrina aos acanhados esquemas do cepticismo materialista ou do superado misticismo espiritualista. O resultado, lembrando o mestre do espiritismo por excelência, será sempre vinho novo em odre velho. Mais que da ciência ou da religião, precisamos da codificação espírita, perfeita síntese de ambas no vasto e inquebrantável conjunto da estrutura filosófica do espiritismo.

[1] KARDEC. Revista Espírita. Janeiro de 1864. Um caso de possessão. Senhorita Julie. O evangelho segundo o espiritismo,
I:7; A gênese, I:42 e O livro dos médiuns, 48.
[2] Mateus, VII, 24 a 27 e XV, 13.
[3] A pedra e o joio. Reforma doutrinária total.
[4] Na hora do testemunho. Antes do cantar do galo. Vaidade das vaidades. Grifo meu.
FONTE: ASSOCIAÇÃO DE DIVULGADORES DO ESPIRITISMO DO RIO DE JANEIRO

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