MANSIDÃO E DOÇURA •
J. Herculano Pires (Irmão Saulo)
As agitações do nosso tempo caracterizam a fase de transição
porque estamos passando na Terra. O conhecimento espírita deve preservar-nos de
arrastamentos perigosos e de incompreensões a respeito da situação do mundo.
Uma consulta às notas íntimas de Kardec, em Obras póstumas, bastaria para nos
esclarecer a respeito e predispormos à vigilância necessária.
Emmanuel recomenda-nos, como sempre, a mansidão e a doçura
como instrumentos de paz. A receita é acertada, mas convém não esquecermos o
ensino de Lázaro, no item 6 do cap. IX de O evangelho : “O mundo está cheio de
pessoas que trazem sorriso nos lábios e o veneno no coração. Não basta que os
lábios destilem leite e mel, pois se o coração nada tem com isso, trata-se de
hipocrisia.”
O espiritismo, tendo por fim conduzir-nos à Verdade, não se
preocupa com as aparências e não aprova as técnicas de falsificação do homem.
De nada vale o verniz da mansidão nas relações sociais, se não tivermos o
coração puro, como Jesus ensinou aos fariseus. Nas horas de bonança podemos
falar em tom suave, mas em meio da tempestade, a advertência, a repreensão
enérgica e até mesmo o grito são indispensáveis.
O bom-senso de Kardec nos lembra o dever de ajudar com
energia nas horas de crises.
Escreve Emmanuel: “Todos os enfermos da alma devem ser
medicados acima de tudo, pelo diálogo curativo.” O espiritismo, por si mesmo,
apareceu no mundo como um diálogo de sua natureza. E podemos ver e sentir, nos
textos doutrinários, que a terapêutica não se faz apenas com palavras
balsâmicas, pois há situações que requerem o golpe cirúrgico das expressões
firmes e precisas. A mansidão e a doçura tornam-se negativas quando não
procedem de um coração cheio de amor verdadeiro.
O copo de água fria que poderá ajudar-nos nas horas de crise
não brota da fonte do fingimento, mas da fonte natural do entendimento fraterno
e do sentimento legítimo de amor ao próximo. Sabemos que as evoluções
individual e coletiva não se fazem por meio de artifícios. Todos os artifícios
são condenados pela doutrina renovadora do Espírito da Verdade, que se assente
no real e não no ilusório. Em nossa conduta espírita, mormente nas fases
críticas como a que estamos enfrentando, não podemos esquecer que a busca da
verdade é o nosso objetivo.
Artigo publicado originalmente na coluna dominical
"Chico Xavier pede licença" do
jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.
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