A MORTE É A VOLTA PRA CASA

SOCIOLOGIA DO INTERMÚNDIO
J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

Quando fixamos a nossa mente apenas neste mundo e a ele nos entregamos de corpo e alma, a realidade extrafísica permanece fora do nosso campo de percepção mental.
As leis de ótica se aplicam de maneira precisa a este campo. Se olharmos sempre para a esquerda, não veremos o que se passa na direita. Quem só olha para a Terra não vê o céu. Por isso, os homens empenhados nos estudos da psicologia humana, atribuem todos os fenômenos psíquicos e mediúnicos exclusivamente às reações orgânicas. Só veem causa e efeito nas relações do homem com o meio, caindo na confusão inevitável de psicologia com ecologia, como assinalou o prof. Rhine.

A prova desse engano está no fato histórico das experiências psíquicas, metapsíquicas e parapsicológicas, que levaram cientistas dos mais ortodoxos, como Crookes e Richet, no passado, Soal e Carington, no presente, a corrigir a sua visão caolha e admitir a realidade de outra dimensão da vida, para escândalo dos colegas jejunos do assunto. Todos os cientistas legítimos que se atreveram a ampliar o seu campo visual tiveram a honestidade e a coragem de contestar o desvio ótico dos outros.

Graças a isso, os pesquisadores atuais dos fenômenos parapsicológicos puderam chegar, sem muitas contestações, àquela conclusão de Richet: “A morte é porta para a vida.” Essa descoberta amplia o campo das relações humanas na perspectiva do paranormal, sancionando cientificamente uma realidade conhecida há milênios, ou seja, a das relações entre os vivos do plano físico e os vivos do plano extrafísico.

A afirmação de Augusto Comte, de que os vivos são cada vez mais dominados pelos mortos, é arrancada pelas pesquisas atuais do seu sentido puramente memorial e integrada na realidade do nosso dia a dia. Assim como os mortos influem sobre nós, também nos influímos sobre eles. Nossas atitudes e reações, nosso comportamento, muito mais do que as nossas preces e lembranças, influem sobre as criaturas amadas que continuam ligadas a nós, pois são o que eram, continuam vivas sem solução de continuidade. Esse o novo e importante dado que o espiritismo oferece à moral-sociológica, transformando-a em moral-espiritual.

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"
do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

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