AMBIÇÕES DESMEDIDAS

A EXPLOSÃO DA CALDEIRA
J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

Note-se a estrutura didática dessa mensagem de Emannuel - OS QUE NÃO SUPORTAM AS QUEDAS MORAIS nos dada em análise da questão nº 171 do Livro dos Espíritos. Primeiro, a colocação do problema do mal e de como  devemos encará-lo. Depois, a definição da responsabilidade dos culpados e a advertência de que eles  caíram sob a explosão da caldeira interna dos conflitos psíquicos, vencidos na batalha moral para sufocá- los, merecendo portanto a nossa compaixão e a nossa ajuda. A seguir, os exemplos concretos que nos  ajudam a melhor compreender o problema. E, por fim, a lembrança de que devemos compadecer-nos dos  que praticam o mal, pois são as vítimas de si mesmos, destruidores das oportunidades que a vida lhes  oferece em cada existência.

Se acrescentássemos às escolas de psicoterapia dos nossos dias a dimensão espírita – como já o estão fazendo alguns especialistas eminentes –, a causa dos desequilíbrios mentais e passionais tonar-se-ia mais acessível aos métodos de cura. O conceito espírita do corpo carnal como verdadeira cela em que o espírito se acha encerrado, segundo vemos nesta mensagem, implica naturalmente o conceito da reencarnação. Mas a limitação existencial das escolas psicológicas, agravadas pelos preconceitos e pela vaidade profissional, impede essa penetração nas profundidades do espírito.

Os traumas e os recalques da alma, presentes e atuantes até mesmo nas pessoas aparentemente mais equilibradas, são comprimidos no interior da cela do corpo que se transforma numa caldeira perigosamente explosiva. Se não colocarmos nessa caldeira a válvula da humildade, para que ela possa aliviar a sua pressão através de uma visão mais ampla da vida, a explosão ocorrerá, fatalmente, mais cedo ou mais tarde. O intelectualismo vaidoso é uma espécie de resíduo que entope a válvula natural da intuição espiritual e apressa o momento fatal. Nossos instintos animais, nossas ambições desmedidas, nosso orgulho ferido, nossas pretensões de supremacia aceleram dia a dia o ritmo da pressão interna.

E quando caímos ante a explosão que devíamos evitar, não somos nada mais do que as vítimas de nós mesmos. Os que culpam a Deus, o destino, a má sorte, são vítimas teimosas, renitentes, que mesmo depois do desastre se recusam a reconhecer-lhe as causas reais. Pobres seres esmagados sob o peso do próprio orgulho, dos quais devemos compadecer-nos e pelos quais precisamos orar.

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"  do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

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