O MASSACRE DOS INOCENTES [CONTINUAÇÃO]- ANALISE ESPÍRITA


ESTUDOS DOS EVANGELHOS À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA [PASTORINO -KARDEC]
50.2 - O MASSACRE DOS INOCENTES [CONTINUAÇÃO]- ANALISE ESPÍRITA

De acordo com os comentários anteriores, não era praxe romana a exigência de que os cidadãos se locomovessem para ser recenseados na cidade de seu nascimento. Eminentemente práticos, desejando sempre eficiência e rapidez nos resultados, não podiam ficar sujeitos a grandes movimentações de massas populares, que retardariam os negócios. Pequenos comerciantes e agricultores não poderiam abandonar seus campos e suas lojas para transladar-se (com que recursos?) a localidades por vezes distantes, para simplesmente submeter-se a um censo. Seria uma exigência impraticável até mesmo na época moderna, com a facilidade de transportes. Imaginemos uma ordem dessas em nossos dias: quase a totalidade dos brasileiros teria que transladar-se para a Europa ou a África, para serem recenseados... Não seriam os juristas (e que juristas!) romanos que determinariam esse absurdo, há dois milênios. José teria que viajar três dias a pé, abandonando seus afazeres, e isso só porque um de seus ascendentes nascera em Belém, havia mais de MIL ANOS! E por que não teria de ir a Ur, na Caldéia, onde nascera seu ascendente Abraão? De tudo isso, deduzimos que o fato narrado pela frase do evangelista oculta um símbolo altamente místico e expressivo. Com efeito, na cidade de Belém havia uma escola iniciática de grande elevação espiritual, mantida pelos essênios, e tradicional no profetismo judaico. Era Belém, de acordo com o significado etimológico da palavra, a Casa do Pão, mas do Pão Espiritual, que o candidato a união com Deus devia frequentar antes do Encontro Sublime. Para essa escola dirigiu-se o intelecto (José) acompanhado da intuição (Maria), que já estava grávida do espírito, pejada de idéias e sensações espirituais a fim de preparar-se devidamente em Belém para que se desse o nascimento do menino. Notemos que o nascimento se dá pela intuição, só mais tarde atingindo o intelecto. Belém de Judá, diz o evangelista, era a cidade de David, ou seja, traduzindo o sentido das palavras: a casa do pão (espiritual) de louvor a Yahweh, era a cidade do Bem-Amado (David), o Santuário do Amor feito homem. Observemos, entretanto, que a ida de José a Belém, cidade dos antepassados, exprime uma rememoração das vidas anteriores, uma visão de conjunto de todo o caminho evolutivo já percorrido pelo espírito, que, antes do passo final, deve remontar às suas origens mais remotas a partir do momento em que penetrou o reino-hominal. Essa interpretação será confirmada pouco mais adiante, quando o falarmos da genealogia de Jesus. Estando, então, José e Maria (o intelecto e a intuição) no ambiente propício, dá-se finalmente o primeiro encontro com Deus dentro de nós (Emanuel = Deus conosco). Mas notemos que eles estavam sós, pois não haviam encontrado lugar nas estalagens. Para dizer que ninguém, nenhum agrupamento humano, pode ajudar à eclosão de união mística. Somente no isolamento da solidão consegue a criatura unir-se ao Criador. Por isso, o intelecto e a intuição se afastam de todos, penetram no santuário do Pão Espiritual, e se recolhem aí num ambiente simples: a um estábulo. Por que estábulo? Exatamente aí reside outra lição. O estábulo é local próprio de animais. E o encontro se dá quando o espírito se encontra no corpo animal, isto é, o corpo denso, constituído de células, que são verdadeiros animais para o espírito, para o Eu Profundo. Quando se dá a união, quando nasce o menino (o homem novo), a intuição o deita na mangedoura, ou seja, coloca-o no lugar em que os animais se alimentam. E onde se alimentam de compreensão os animais-homens, senão no cérebro, sede do intelecto. É O cérebro de fibras nervosas que alimenta de idéias o homem, ainda animalizado, até que ele atinja as culminâncias da mente, através da intuição. A intuição, pois, deita o menino no intelecto (Maria entrega o filho a José), e a criatura vê descer até sua pequenez o Infinito de Deus. Símbolos maravilhosamente descritos, com sublime transcendência e objetividade singela, jamais alcançados em qualquer livro simbolista da literatura mundial. Por causa desse simbolismo, compreendemos a ânsia das igrejas tradicionais em defender a tese da virgindade de Maria. O que de início se queria demonstrar, porque é a realidade, é que o encontro com Deus só pode dar-se virginalmente, isto é, sem interferência de quem quer que seja. Nenhum mestre pode produzir no discípulo o encontro místico: só a Centelha Divina, só o Espírito da própria criatura, é que realiza o nascimento. Então, a concepção é realmente virginal e produto de um espírito, não por obra de homem. Para defender essa idéia real e sublime, e fazê-la permanecer límpida e clara através dos séculos, as igrejas (mesmo que tivessem perdido a percepção do sentido íntimo) tinham que forçar o simbolismo através dos fatos, para deixar bem cristalino para as gerações futuras o ensinamento contido no Livro Santo. Em vista disso, carregaram as cores do quadro, para que O ensinamento se não perdesse nem maculasse através dos séculos. E dessa forma, todos os que tivessem olhos de ver , ouvidos de ouvir e coração de entender pudessem ser esclarecidos: não adiantaria buscar fecundação em nenhum mestre, porque o nascimento é virginal (quando vos disserem eis aqui o Cristo ou ei-lo ali, não acrediteis, Mat. 24:33-26). Evidentemente, o nascimento só poderá dar-se quando se completarem os dias, isto é, quando o amadurecimento tiver chegado a termo; e o filho é sempre o primogênito, já que, realizado numa existência, permanecerá o mesmo durante toda a eternidade (seu reino não terá fim. Luc. 1:33).

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