ANÁLISE DO TRECHO DE MARCOS - JESUS NO DESERTO

ESTUDOS DOS EVANGELHOS À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
[PASTORINO-KARDEC]
103 – A TENTAÇÃO DE JESUS
103. 8 – ANÁLISE DO TRECHO DE MARCOS - JESUS NO DESERTO

No trecho resumidíssimo de Marcos há um pormenor: Jesus, no deserto, estava com as feras e com os anjos, que O serviam. Na Palestina da época, as feras que perambulavam eram chacais, lobos, raposas, gazelas e, menos provavelmente, hienas, panteras e leopardos.
Mais alguns ensinamentos de profundo alcance, nesta lição da Boa Nova. Após ter a individualidade (Jesus) realizado o Sublime Encontro ou Mergulho no Fogo, Cristo Interior, é ela levada para consolidar essa união no deserto, onde permanece em oração e meditação. Realmente, só no isolamento podemos conseguir uma fixação e vibrações em faixas tão delicadas de frequência tão elevada. Qualquer distração faria fugir a sintonia. E o burburinho ocasionaria distração. Por isso, quando o Momento Sublime se apresenta, o Discípulo é levado pelo Espírito (individualidade) ao isolamento, onde viverá em oração e meditação. Isso ocorria muito entre eremitas e cenobitas em tempos idos. Hoje ainda é frequente no Oriente. (Índia e Tibet) embora menos comum no Ocidente, onde existe, porém, nos conventos das Trapas.
O deserto exprime um lugar sem habitantes. O planeta Terra é de fato um local em que não são vistos os espíritos. Nesse sentido, é um deserto de espiritualidade, embora seja densamente habitado por criaturas físicas. Qualquer espírito elevado, que saia de seu hábitat natural no mundo dos espíritos e venha à Terra, penetra realmente num deserto e, como diz Marcos, vive entre as feras, embora os anjos o sirvam, ou seja, os espíritos bons jamais o deixem abandonado. O número quarenta tem um significado especial: exprime o arcano do plano físico, sublinhando seu caráter material. Representa a esfera da concretização das formas nervosas, isto é, a materialização (encarnação) do astral e do etérico. Quarenta significa também a luta do espírito com o mundo exterior, ou seja, a realização da Mônada ou Centelha Divina do lado de fora de si mesma. O discípulo, no Caminho, sabe, porém, que todos os estados materiais (o deserto) são efêmeros e cessarão um dia. E apesar de só haver dificuldades, sabe que essas dificuldades são momentâneas e não impedirão a ascensão que buscamos (cfr. Serge Marcotoune, La Science Secrete des Initiés, pág. 203 ss, éd. André Delpeuch, Paris, 1928). Então, os quarenta dias no deserto, entre feras (mas servido pelos anjos) é a vida da Centelha Divina no planeta Terra, entre criaturas involuídas. E sua passagem pela Terra tem justamente a finalidade de ser tentada, ou melhor, ser experimentada através do espírito a que deu nascimento. Assim como em nossas escolas ninguém é promovido de ano sem prestar exames, assim na vida espiritual ninguém ascende de plano sem passar pelos exames das provações. E é exatamente por isso que se torna imprescindível a encarnação no plano físico. Com efeito, se a encarnação pudesse ser dispensável, acreditamos que muitos espíritos não viriam ao planeta, e evoluiriam diretamente no mundo espiritual (doutrina aceita por Swedenborg): uma vez abandonada a matéria, nunca mais a ela voltariam. A teoria pode ser sedutora, mas não corresponde aos FATOS comprovados. Ora, contra fatos não há argumentação filosófica que se sustente. E os fatos, cientificamente experimentados e comprovados, demonstram que o espírito vem à Terra a cada novo passo que tenha que conquistar. Como não podemos admitir que a Sabedoria da Vida obrigue a passos inúteis, concluímos que a única via de acesso a novos planos seja através da materialização temporária na Terra, com esquecimento do passado, para que, como nova criatura (nova personalidade), possa assumir a responsabilidade de seus atos, merecendo assim integralmente a melhoria a que fez jus (ou a consequência dolorosa de seus erros). 

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