ANÁLISE DOS FATOS SOBRE O MERGULHO DE JESUS


ESTUDO DOS EVANGELHOS A LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA 

[PASTORINO-KARDEC]
102 - O MERGULHO DE JESUS [BATISMO]
102.2 – ANÁLISE DOS FATOS SOBRE O MERGULHO DE JESUS


Agora chegamos aos fatos, que enumeramos para facilitar o comentário:


1) Jesus mergulha e sai imediatamente (eythys) da água. Aqui chamamos a atenção do leitor para o mergulho (batismo) que não era por aspersão nem por derramamento de água na cabeça, mas era realmente mergulho, tanto que Jesus sai da água, onde havia mergulhado totalmente (com cabeça e tudo), costume que se manteve na igreja católica até, pelo menos, o século XI, notando-se que só era conferido a pessoas adultas, acima da idade da razão. Cirilo de Jerusalém (Catecismo, 20,2) ao discursar aos recém batizados, diz: à vossa entrada (no batistério) tirastes a túnica, imagem do homem velho que despistes. Assim desnudados, imitáveis a nudez de Cristo na Cruz ... coisa admirável: estáveis nus diante de todos e não tínheis acanhamento: éreis a imagem de nosso primeiro pai, Adão. E na vida de João Crisóstomo (Patrologia Graeca, vol. 47, col. 10) Paládio escreve: Era Sábado-santo. A cerimônia do batismo ia começar e os catecúmenos nus esperavam o momento de descer na água. Foi quando irrompeu um bando de soldados que invadiu a igreja para expulsar os fiéis. Corre o sangue e as mulheres fogem nuas, pois lhes não permitiram apanhar suas roupas. Lucas acrescenta: estando Jesus a orar, coisa que esse evangelista de modo geral registra (cfr. Luc. 5:16; 6:12; 9:18; 11:1; 22:24), talvez compreendendo o grande valor da prece e demonstrando que, em todas as ocasiões mais graves, Jesus elevava seu pensamento em prece.
2) os céus se abriram - céus ou ar atmosférico. Como se abriram? Daria ideia de que algo tivesse sido visto por trás da abertura. O que? Ou seria apenas uma luz mais forte que tivesse aparecido, dando a impressão de abertura? Marcos usa a expressão os céus se fenderam ou rasgaram (mesmo termo que se emprega para roupa ou rede que se rompe), verbo que também hoje se diz: um raio rasgou os céus. Por aqui se vê que céu ou céus exprime a atmosfera, e não um lugar de delícias.
3) é visto o Espírito (Marcos e João), o Espírito de Deus (Mateus), o Espírito o Santo (Lucas). Mas de que forma foi percebido o Espírito?
4) com a forma (Lucas: corporalmente) de uma pomba. Os quatro evangelistas empregam a conjunção comparativa COMO. Nenhum deles diz que ERA uma pomba, mas que era COMO uma pomba. O advérbio corporalmente (somatikó) empregado por Lucas indica a razão de haver sido comparado o Espírito a uma pomba: era a aparência do corpo de uma pomba. Trata-se da shekinah, luz que desce em forma de V muito aberto: tanto assim que todas as figurações artísticas, desde os mais remotos tempos, apresentam uma pomba de frente, e de asas abertas e jamais pousada e de asas fechadas. Os artistas possuem forte intuição.
5) descer sobre ele (e permanecer., João). Todas essas ocorrências narradas (que numeramos de 2 a 5) são fenômenos físicos de vidência. A luz não estava parada, mas se movimentava, descendo sobre Jesus. Essa descida é que empresta a forma maior profundidade ao centro e maior elevação dos lados fazendo que pareça (imagem óptica bem achada) uma pomba em voo. O Espírito desceu sobre Jesus, sem forma, como uma luz que descia. Nele penetrou e permaneceu. Mas parecia, ou era como uma pomba.
6) e ouviu-se uma voz do céu. A própria atmosfera vibrou noutro fenômeno físico de audiência, desta vez com rumor de voz humana, que emitiu um som e articulou palavras claras, audíveis e compreendidas: este é meu Filho amado, com quem estou satisfeito, isto é, que aprovei que me agradou. Tendo-o chamado meu Filho, deve supor tratar-se de um Espírito Superior ao de Jesus, que O amava como um pai ama o filho. A expressão é de carinho. Comum ser dado e recebido esse tratamento por parte de pessoas que não são pais e filhos: sacerdotes assim tratam os fiéis, professores a seus alunos, superiores a seus subordinados, mais velhos a mais moços. E nas reuniões mediúnicas, então, é quase de praxe que assim os espíritos tratem os encarnados. Não significa, em absoluto, que a voz tenha sido de DEUS-PAI, simplesmente porque DEUS ABSOLUTO não é antropomórfico, não possui atributos humanos (em que idioma falaria Deus?).

Todos os fenômenos narrados são manifestações de efeitos físicos (vidência e audiência) que frequentemente ocorrem em reuniões espiritistas, com as mesmas características, percebidas por médiuns videntes e clariaudientes: céu que se abre, luzes que descem, vozes que falam. Para quem está habituado a assistir a essas cenas, elas se tornam naturais e familiares, embora sempre impressionem profundamente, pelas revelações que trazem. Autores antigos gregos e romanos são férteis em narrativas desse gênero. Quem percebeu esses fenômenos? Apenas João ou todos os presentes? Mateus e Marcos dão-nos a impressão de que só João viu e ouviu. Lucas nada diz: apresenta o fato. O evangelista João coloca as palavras na boca do Batista, como única testemunha ocular, não acenando à voz.

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