O ESPÍRITO DE JOÃO ERA O DE ELIAS

ESTUDO DOS EVANGELHOS À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA 
[PASTORINO-KARDEC]
101 - RESPOSTAS DE JOÃO – A VINDA DE ELIAS
101.2 -  PROVA DA REENCARNAÇÃO DE ELIAS – O ESPÍRITO DE JOÃO ERA O DE ELIAS

O comentador católico Monsenhor Louis Pirot, de quem muito nos servimos nestes comentários, escreve uma frase preciosa ao esclarecer a resposta do Batista: mas enfim, tratava-se de Elias em pessoa e, nesse sentido, João Batista só podia responder negativamente (La Sainte Bible, vol. 10, pág. 321). Embora desconhecendo a técnica da reencarnação, e por isso negando-a, Pirot acertou: a PESSOA (personalidade) de Elias era uma; a PESSOA (personalidade) de João Batista era outra, totalmente diferente. Todavia, a INDIVIDUALIDADE, o SER, ou o ESPÍRITO (não a alma!) de ambos era UM SÓ. Duas contas de um rosário são duas contas diferentes, mas o fio que as liga faz que elas sejam um rosário e um fio só. Outro exemplo: cada membro de nosso corpo é independente - o braço não é a perna - mas o que faz que eles formem parte de UM SER apenas, é nosso ESPÍRITO que os unifica num só corpo. Aliás, são Gregório Magno (Homilia VII in Evangelium, Patr. Lat. t. 76 col. 1100) escreve: Em outro local (Mat. 11:13-14) , sendo o Senhor interrogado pelos discípulos quanto à vinda de Elias, respondeu: Elias já veio, e se quereis sabê-lo é João que é Elias. João, interrogado, diz o contrário: eu não sou Elias ... É que João era Elias pelo espírito que o animava, mas ele não era Elias em pessoa. O que o Senhor diz do espírito de Elias, João o nega da pessoa.. Conforme vemos, exatamente nosso ponto de vista, concordando plenamente com a tese reencarnacionista. Vem a terceira pergunta, baseada na promessa de Moisés: Yahweh, teu Deus, suscitar-te-á do meio de ti (povo), dentre teus irmãos, um Profeta igual a mim: escutai-o. (Deut. 18:15). Seria João esse Profeta? Essa profecia foi aplicada a Jesus por Pedro (Atos, 3:22), por Estêvão (Atos, 7:37) e pelo povo judaico (João, 6:14 e 7:40). O Batista mais uma vez nega ser esse Profeta predito por Moisés. A missão do sinédrio era oficial. Tinha, pois, o direito de argüir João. E pergunta-lhe como desfecho: que dizes de ti mesmo? João retruca citando Isaías (40:3): sou a voz do que clama no deserto, endireitai os caminhos do Senhor. Já estudamos esse trecho nos comentários aos sinópticos (Mat. 3:3; Marcos, 1:3 e Lucas, 3:4). Aqui é o próprio João que a aplica a si mesmo, oficialmente, diante da máxima autoridade civil e religiosa do povo israelita. Neste ponto, o evangelista diz que a delegação fora enviada pelos fariseus, ciosos do cumprimento da Lei e da Tradição. Finalizado o interrogatório, tomam satisfações de seus atos: se não és o Cristo, nem Elias, nem o Profeta, com que direito mergulhas tu? Como vemos, a crença da reencarnação de Elias era aceita como indiscutível, o que prova que a própria reencarnação em si também o era. Apenas, não conheciam ainda bem a sua técnica. João esclarece que apenas mergulha na água, para excitar os sentidos à reforma mental, mas afirma solenemente que o Messias já está em Israel. Informa o evangelista que esses fatos ocorreram em Betânia além do Jordão (não é a Betânia de Marta e Maria). Orígenes, que conhecia o terreno, quis corrigir os manuscritos para Betabara, para conformar-se à topografia da região. 
Nesta cena, observamos a angústia que obceca os homens pela personalidade, pelo que cai sob os sentidos. Nada de interessar-se pelo Espírito. Querem firmar suas crenças externas nas ilusões passageiras do corpo, da pessoa, da filiação, das credenciais humanas. Estes interrogatórios serão feitos a todos os que mergulharam no Espírito: Quem és? Que autoridade tens? Quem te deu esse poder? Se houver um diploma conferido, está tudo legal. Mas há que ser um diploma material e humano. A Força Divina, para os homens comuns e para as autoridades, de nada vale: é indispensável a confirmação da autoridade humana.

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