SIGNIFICADO DOS 40 DIAS E 40 NOITES DE JEJUM

ESTUDOS DOS EVANGELHOS À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
[PASTORINO-KARDEC]
103 – A TENTAÇÃO DE JESUS
103.6 –  SIGNIFICADO DOS  40 DIAS E 40 NOITES DE JEJUM 

Passemos, agora, aos comentários exegéticos dos trechos, procurando ater-nos à cronologia das ocorrências.
(1) Lucas diz que Jesus voltou do Jordão cheio de um espírito santo (em grego sem artigo; portanto, é indeterminado, um epíteto comum: um espírito bom, iluminado), e foi com o (com esse) espírito para o deserto. Aí temos mais uma vez a preposição grega en, com valor associativo, que já comentamos.
(2) Mateus afirma simplesmente que foi conduzido ao deserto pelo espírito (agente da passiva, com a preposição hypó, que literalmente daria o sentido sob um espírito, podendo entender-se: conduzido sob a influência do espírito, ou ainda incorporado).
(3) O deserto não foi localizado até hoje. Pela tradição seria o Monte da Quarentena (Djebel Karantal) a 4 quilômetros a nordeste da moderna Jericó, lugar ermo e cheio de grutas naturais. O deserto, segundo informam as Escrituras, era o local preferido dos espíritos atrasados (cfr. Mat. 12:43; Luc. 11:24; Isaías, 13:21 e 34:14; Bar. 4:35 e Tob. 8:3).
(4) Temos a notícia do jejum de quarenta dias e quarenta noites. Não se trata de um hebraísmo essa repetição, mas salienta o narrador que Jesus não comeu nem de dia nem de noite; há razão para essa afirmativa, pois no oriente, depois de ocultar-se o sol, os jejuadores podiam alimentar-se, como ainda se usa hoje no Ramadan.
(5) Por que quarenta? É um número simbólico e cabalístico, que vemos repetido no Velho Testamento: o dilúvio dura quarenta dias (Gên. 7:17); Moisés jejua no Sinai, por duas vezes, durante quarenta dias de cada vez (Deut. 9:9 e 9:18); os israelitas ficam 40 anos a peregrinar pelo deserto (Núm. 14:33) ; Elias jejua 40 dias (1 Reis 19:8); David e Salomão reinam quarenta anos cada um (1 Reis, 2:11 e 11:42) e outros passos ainda. Na própria vida de Jesus temos esse jejum e mais tarde sua permanência na Terra entre a ressurreição e a ascensão, durante quarenta dias (At. 1:3). Deve haver algum significado nesse número.
(6) Depois assinalam os evangelistas que Jesus teve fome.
(7) Aparece então o tentador. Discutem os hermeneutas se Lhe apareceu sob forma humana corpórea, se pegou mesmo a pedra com sua mão, ou se a cena se passou em pensamento. Na primeira hipótese teríamos um fenômeno de materialização, e assim costumam representá-la os pintores. Na segunda, seria apenas um fato intelectual. Não discutiremos essas minúcias, pois o fato será esclarecido no comentário simbólico, compreendendo-se que se trata de pensamentos, que, aliás, nem sequer chegaram a tomar consistência, tão rapidamente foram esmagados pelo Espírito de Jesus.

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