HORA DE FÉ • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

HORA DE FÉ  •  J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

Não é por causa dos estudos e do progresso das ciências que os homens se tornam materialistas, mas por causa do orgulho e da vaidade. Isso afirma Kardec, em O livro dos espíritos, reproduzindo instruções espirituais, na questão 148. E, a seguir, comenta: “Por uma aberração da inteligência, há pessoas que não veem nos seres orgânicos mais do que a ação da matéria, e a esta atribuem todos os nossos atos”.
Essa aberração da inteligência torna-se mais evidente em nossos dias. A diagnose de Kardec foi de absoluta precisão. No momento exato em que a cultura terrena perde as suas bases materiais e passa a girar na órbita do espírito – é absurdo, simples absurdo, lamentável prova da deformação da lógica pelo orgulho, a opção do materialismo. A matéria se desfez em energia, e, portanto, em vibração, nas mãos dos físicos; a descoberta da antimatéria revelou novo plano de vida; a astronáutica abriu-nos a possibilidade de contato com outros mundos habitados; os materialistas foram surpreendidos com a possibilidade de ver e fotografar o corpo espiritual do homem, e puderam constatar que esse corpo não se destrói com a morte.
Quais os dados que esses avanços do conhecimento oferecem a favor da concepção materialistas? Só uma aberração da inteligência, uma deformação da razão, pode levar alguém a deduzir, dessa enorme revolução científica, que o materialismo saiu vitorioso. Os próprios filósofos materialistas, como no caso de Bertrand Russell, viram-se obrigados a estranhos malabarismos mentais para defender a sua concepção. Sartre, o filósofo do nada, perdeu popularidade em favor de Heidegger, até há pouco acusado de cair no misticismo.
É tolice dizer que o desenvolvimento atual das ciências favorece o materialismo. O próprio Einstein afirmou, bem antes desses avanços mais recentes: “O materialismo morreu por falta de matéria.” Quem opta pelo materialismo, nesta altura da evolução científica, revela falta de senso ou distúrbio do raciocínio. Seria o mesmo que Tomé dizer a Jesus ressuscitado: “Se toco as tuas chagas é porque não morreste.”
A tendência para o materialismo é ainda muito comum entre os jovens. “A juventude – disse Ingenieros – toca a rebate em toda renovação.” Os jovens trazem a missão de renovar o mundo e por isso lutam contra os princípios dominantes, rebela-se contra os sistemas tradicionais. A luta da ciência contra a religião – o dogmatismo fideísta emperrando o progresso – mostra-lhes de que lados estão as forças renovadoras. Eles se alistam afoitamente desse lado. Mas o espiritismo transformou esse quadro, revelando que a ciência também pode frear o progresso. Os dogmas do materialismo científico são tão prejudiciais quanto os do fideísmo religioso. E os moços começam a compreender isso.
Temos de ajudar os jovens, mostrando-lhes que o espiritismo não sofre dos prejuízos do dogmatismo fideísta ou do dogmatismo religioso. Temos de mostrar-lhes que a ciência espírita é hoje a posição de vanguarda. Mas para tanto é necessário desenvolvermos a cultura espírita, criando o clima adequado à compreensão da doutrina em sua plenitude e não apenas no seu aspecto religioso. Ai dos que tentam afastar os jovens do Cristo, subordinando-os à rotina dos velhos. O espiritismo é a juventude do mundo, é a rebelião contra os erros do passado. Ele nos propõe uma hora de fé, mas de fé racional, de fé pelo saber.
Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"  do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

Comentários