AS DUAS FACES – CÁRCERE DA EMOÇÃO
* Muitos de nós, simbolicamente, temos os nossos dias de
traído e de traidor. Dias em que trazemos na face de expressão da bondade e da
ternura. E dias em que somos o retrato vivo do desespero. É nesses dias
difíceis que devemos buscar, emocionalmente, a serenidade dos dias de luz e
seguir em frente com vontade de imprimir, de vez por todas, a face justa e bela do nosso modelo maior, que
é Jesus Cristo.* PARA REFLEXÃO!
Afirma-se que um famoso pintor do renascimento, quando
pintava um quadro sobre o menino Jesus, após conceber e fazer os primeiros
estudos procurou uma criança que lhe servisse de modelo para a face do Mestre,
na infância. Procurou em muitos lugares até encontrar um pequenino sujo, que
brincava nas ruas. O menino retratava no olhar e na face toda a pureza,
bondade, beleza e ternura que se podia conceber. Explicou-lhe o que desejava e,
ante a autorização da família, levou-o para posar em seu atelier,
retribuindo-lhe o trabalho com expressiva soma em moedas de ouro.
Anos depois, o artista desejou pintar outro quadro. Dessa
vez iria retratar Judas. E saiu em busca de alguém que pudesse lhe oferecer o
rosto do traidor. Em mercados e praças públicas, tabernas e antros de costumes
perniciosos por onde esteve à procura, não encontrou ninguém que se
assemelhasse, em aparência, ao discípulo equivocado.
Já havia desanimado de procurar e pensava em desistir,
quando, visitando uma taberna de má qualidade, se deparou com um delinquente
embriagado, em cujo olhar e semblante se encontravam os conflitos do traidor,
conforme a concepção que dele fazia. A barba endurecida e a cabeleira mal
cuidada eram a moldura para o olhar inquieto, desconfiado, num rosto contorcido
pelo desconforto íntimo, formando um conjunto de dor e revolta, insegurança e
arrependimento ímpares.
Comovido com o fato, o artista convidou aquele homem para
posar, ao que ele respondeu que só faria sob a condição de boa recompensa
financeira. O pintor começou a obra e percebeu, após algumas sessões, que a
face congestionada daquele homem se modificava a cada dia, perdendo a
agressividade e a perturbação.
Um dia resolveu perguntar ao modelo o porquê de tal
transformação, ao que ele, um tanto melancólico, respondeu: Posando nesta sala,
recordo-me que há alguns anos, eu servi ao senhor de modelo para a face do
menino Jesus... Eu sou aquele garoto em cujo rosto o senhor encontrou a paz e a
beleza do Justo traído... O dinheiro que ganhei, em face da minha imaturidade,
mais tarde pôs-me a perder e, de queda em queda, numa noite eu me embriaguei,
por uma disputa insignificante matei outro homem. Condenado num julgamento arbitrário
envenenou-me de ódio... Agora, pisando neste lugar outra vez, recordo daquele
tempo e retorno, emocionalmente, a Ele, e me acalmo...
Paradoxalmente, o mesmo indivíduo ficou retratado na face de
Jesus menino e de Judas, em duas fases diferentes da mesma vida.
(Momento Espírita -
Diário Regional/JF)
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