NO TREM DOS ESTUDANTES[E A TRÁGÉDIA DE SANTA MARIA] - J. Herculano Pires (Irmão Saulo)


NO TREM DOS ESTUDANTES[E A TRÁGÉDIA DE SANTA MARIA] - J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

Emmanuel coloca o problema da desvinculação afetiva em dois planos: o do afastamento de pessoas queridas que se retiram do lar e o da partida para “outros e novos níveis de espaço e tempo”. Em ambos os casos rompe-se o vínculo da convivência. Em ambos os casos há sofrimento moral de parte a parte. O assunto é tratado no item 9 do capítulo XIV de O Evangelho Segundo o Espiritismo, e ali encontramos o seguinte aviso aos que sofrem: “As grandes provas são quase sempre o indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do espírito, desde que sejam aceitas por amor a Deus.”
O desastre do Trem dos Estudantes, em 8 de junho de 1972, entre Suzano e Jundiapeba [e a recente tragédia do incêndio na boate em  Santa Maria], inclui-se no capítulo das provas coletivas. Além dos mortos e feridos, estão sofrendo essa prova os familiares duramente atingidos, os amigos e colegas das vítimas. A tragédia caiu sobre verdadeira multidão. Estamos em face de um processo de desvinculação em massa. Quantos lares enlutados pela perda de entes queridos, quantos corações dilacerados, quantos espíritos aturdidos pela brutalidade da ocorrência!
O que mais impressiona é o número de jovens que tiveram sua vida bruscamente cortada, quando a caminho das escolas superiores que cursavam em Mogi das Cruzes[e aqueles que buscam suas distrações em Santa Maria]. Tudo isso parece aterrador, desnorteante, como se estivéssemos num mundo caótico, sem ordem, sem lei, sem Deus. Não obstante, o Universo nos responde com a ordem absoluta das suas leis que tudo regem, desde a relva humilde na Terra até as constelações gigantescas no infinito.
Nada acontece por acaso. Tudo resulta da lei de causa e efeito. E todo efeito tem um sentido: o da evolução. Todos somos espíritos faltosos e sofremos as provas que pedimos antes de encarnar. Temos dívidas coletivas a resgatar. Mas além do resgate espera-nos a liberdade, a paz, o progresso. Os jovens que morreram foram poupados de sofrimentos futuros numa vida em que a doença, a velhice e a morte são o salário de todos nós.
Transferidos para a vida maior, que realmente corresponde às suas necessidades e à sua natureza, são todos eles seres espirituais e não materiais. Agora precisam da compreensão dos pais, dos irmãos, dos amigos e colegas que deixaram na Terra. Precisam de paz, de preces, de bons pensamentos, das vibrações de sincera amizade para se recuperarem em espírito.
Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença" do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970 [com adaptação para a tragédia recente no incêndio na boate em Santa Maria].

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