A VOLTA DE JESUS À GALILÉIA - "ANALISE DA EXPRESSÃO - FILHO DO HOMEM"


ESTUDOS DOS EVANGELHOS À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
PASTORINO - KARDEC]
301- A VOLTA DE JESUS À GALILÉIA - "ANALISE DA EXPRESSÃO - FILHO DO HOMEM"

A expressão hebraica filho de ..., exprime o possuidor da qualidade da palavra que se lhe segue: filho da paz é o pacífico; filho do estrangeiro é o estrangeiro; nessa interpretação, filho do homem é o homem. No entanto, embora em alguns passos possa interpretar-se assim (por exemplo: Deus não é como um homem que mente, nem como o filho do homem que muda, Núm. 23:19) nem sempre essa expressão se conservou com esse sentido. Na época mais recente do profetismo, o significado se foi elevando, passando a designar algo de especial.
Observamos assim que Daniel (7:13) descreve a visão que teve do Filho do Homem que vinha sobre as nuvens do céu. Isaías fala: feliz o Filho do Homem que compreende isto (56:2). Jeremias afirma que o Filho do Homem não habitará a Iduméia (49:18) nem Asor (49:33) nem Babilônia (50:40 e 51:43), significando que não terá participação com os pecadores. Ezequiel só é chamado por YHWH de Filho do Homem (em todo o livro de Ezequiel, 92 vezes). O sentido, dessa maneira, se foi restringindo até assumir o significado que, na época de Jesus, já se havia firmado: era o Homem que já se havia libertado do ciclo reencarnatório (guilgul ou samsara). Nesse sentido, Filho do Homem se opunha a Filho de Mulher, que representava o homem ainda sujeito às reencarnações, ainda não liberto da necessidade de nascer através da mulher.
O Filho do Homem é o Espírito que já terminou sua evolução, e que portanto se tornou o produto do Homem, o fruto da humanidade. Não mais necessita encarnar, mas pode fazê-lo, se o quiser. Não está preso ao ciclo fatal (kyklos anánke): vem quando quer. São os grandes Manifestantes da Divindade, os Mensageiros, os Profetas, os Enviados, os Messias, que descem à carne por amor à humanidade a fim de trazer revelações, de indicarem o caminho da evolução, exemplificando com sua vida de dores e sacrifícios, a estrada da libertação, que eles já percorreram, e que agora apenas perlustram para mostrar, como modelos, o que compete ao homem comum fazer por si mesmo. É o caso de Krishna, Buddha, Moisés, Ezequiel, Jesus, Maomé, Ramakrishna, Bahá ’u ’lláh e outros.
Em o Novo Testamento encontramos o título Filho do Homem aplicado por Jesus a ele mesmo na seguinte proporção: em Mateus, 31 vezes; em Lucas, 25 vezes; em Marcos, 14 vezes; em João, 12 vezes; apenas em João 12:34 o título lhe é dado pelo povo. No entanto, Jesus não o aplica a mais ninguém. E dá-nos ele mesmo a definição do que entendia pela expressão, quando diz: ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu. a saber, o Filho do Homem (Jo. 3:13), ou seja, só aquele que já subiu ao céu (que já se libertou da Terra, das reencarnações) é que, ao descer à Terra reencarnado, pode ser chamado Filho do Homem, como era seu caso. Esse tem conhecimento próprio, adquirido pela experiência pessoal, do que se passa nos planos superiores à humanidade, e portanto pode falar com autoridade.
Não sendo mais Filho de Mulher, mas Filho do Homem, podia ele dizer que João Batista era o maior entre os Filhos de Mulher, ou seja, entre aqueles que ainda estão sujeitos à reencarnação pela Lei do Carma. João era, realmente o maior entre os presos à roda de Samsara; mas o menor dos já libertos, era superior a ele; e Jesus era Filho do Homem, já liberto.
Interessante observar que, no resto do Novo Testamento, a expressão Filho do Homem aplicada a Jesus (que assim se denominava) só é encontrada na boca de Estêvão (Atos, 7:56) e em dois passos do Apocalipse (1:13 e 14:14). Explica-se o fato porque, fora da Palestina, sobretudo entre os gentios[estrangeiros, gregos, romanos, etc], a expressão podia ser interpretada ao pé da letra, e portanto traria sentido ridículo à pregação dos apóstolos sobre a pessoa de Jesus.

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