PROBLEMAS DE PARENTELA - J. Herculano Pires (Irmão Saulo)
[O Evangelho Segundo o Espiritismo nos oferece o item 7 do capítulo IX para estudo. Nota – O item citado, do livro doutrinário, trata precisamente dos problemas em causa. Os espíritos aconselham paciência e resignação na luta contra as adversidades. Um espírito escreveu: “A vida é difícil, bem o sei. Constitui-se de mil pequenas alfinetadas que acabam por nos ferir.”]
Os problemas de parentela são sempre os mais difíceis da vida cotidiana, para quem tem o senso do dever e das obrigações em família. O egoísta se desfaz deles com facilidade, mas com isso apenas adia obrigações desta existência para outras, naturalmente agravadas com os juros da indiferença comodista que representa uma infração, à lei de amor ao próximo. Aguentar parentes-problemas não é mais do que reparar os danos que lhes causamos no passado. Daí a afirmação do poeta Cornélio, no tocante à parentela: “Mais vale aguentar com ela.”
Trata-se de um princípio doutrinário que nem todos aceitam. Os que não conhecem a lei da reencarnação, tão clara, em várias passagens evangélicas, rejeitam esse princípio por ignorância. Mas há os que a conhecem e nem por isso aceitam o princípio. É fácil alegar que parentes, amigos e conhecidos que nos oneram nesta vida, com suas dificuldades, são criaturas irresponsáveis. Mas convém lembrar que nada acontece por acaso. Se essas criaturas estão hoje ligadas a nós, existe para isso algum motivo sério. O espiritismo nos mostra que esse motivo provém de existências anteriores. Os que hoje pesam sobre nós, estão simplesmente cobrando afeição e atenção que lhes negamos ontem.
O remédio eficiente é o que Cornélio receita, na última quadra: "mais amor e paciência / paciência e mais amor." Por outro lado, convém lembrar que a lei evangélica de amor ao próximo supre, de maneira perfeita, a falta de conhecimento da lei de reencarnação. Embora não aceitando a reencarnação, toda pessoa de formação evangélica deve saber que o seu dever para com as dificuldades e deficiências do próximo é mandamento divino e, ao mesmo tempo, norma de conduta humana. Espiritualistas enfrentam nesse campo obrigações inalienáveis, embora em posições diferentes.
Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença" do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.
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