PONTE PARA O MUNDO • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

PONTE PARA O MUNDO • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

O homem fechado em si mesmo é um animal egoísta. Não enxerga um palmo além do nariz, como ensina o ditado popular. Só pensa nele mesmo, só cuida dos seus interesses. Não vive como gente, vegeta como um rato no seu buraco. É contra esse perigo de ensinamento, essa terrível saturação do egoísmo, que Emmanuel nos adverte em sua mensagem. E, indicando o remédio, nos diz: "O próximo é a nossa ponte para o mundo."
Quando Descartes pôs em dúvida todo o conhecimento do seu tempo, descobriu a ideia de Deus no mais profundo de si mesmo. Essa ideia lhe serviu como ponte para religá-lo ao mundo de que ele se havia isolado. Emmanuel nos mostra que a ponte é o nosso próprio semelhante. E isso concorda com o ensino evangélico de que amar ao próximo é o mesmo que amar a Deus. A ponte para o mundo se constitui, portanto, do mandamento amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Os egoístas consideram tudo isso como simples lorota. Mas a vida social se incumbe, por si mesma, de provar-lhes a realidade desses ensinos. Porque ninguém pode viver sozinho, isolado, fechado na sua casca. Todos precisam de todos. Há duas formas de transcendência, ensina o psicólogo Karl Jaspers: a transcendência horizontal e a transcendência vertical. O homem só pode elevar-se, transcender os limites estreitos do seu ego e da sua animalidade, ligando-se aos outros no plano das relações sociais (horizontal) ou elevando-se a Deus através do sentimento religioso (vertical). Quem se eleva através da transcendência horizontal acaba também se elevando através da vertical e vice-versa.

É fácil e cômodo considerar os outros como outros, como estranhos a nós. O comum dos homens procede assim. Mas os homens que superam o comum, que possuem mente mais arejada que o vulgo, sabem que os outros são o nosso próximo e que as dores dos outros são nossas também. Daí o ensino de Emmanuel: "Se alguém precisa de ti, também precisas de alguém." A sociabilidade perfeita consiste na compreensão desse princípio.

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença" do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

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