PARA AQUELES QUE NÃO
PODEM VER
[SONHAR SEMPRE SERÁ
PRECISO! QUEM TEM OLHOS DE VER QUE VEJAM!]
Aquela parecia ser
apenas mais uma cerimônia de formatura de grau superior. Muitas
pessoas reunidas para celebrar a conquista importante de seus amores.
Nomes gritados com empolgação. Convenções ritualísticas antigas,
enfim, tudo que se encontra sempre em uma dessas celebrações.
"Excelentíssimos", "ilustríssimos", discentes,
docentes, todos estavam lá. Os nomes dos formandos foram então
evocados, um a um, enquanto desciam de suas cadeiras organizadas em
fileiras atrás da mesa principal. A cada nome pronunciado ouvia-se
uma pequena algazarra de dez, quinze, vinte pessoas, homenageando um
jovem em especial, no meio de um público de cerca de mil e
quinhentos espectadores, que só prestavam atenção na festa quando
ouviam o nome do formando que estavam ali prestigiando. E assim
seguia o evento, com as comemorações particulares de cada família,
a cada chamada no sistema de som do anfiteatro. Mais um nome chamado.
Então, subitamente, um silêncio profundo em toda a plateia. O
formando chamado demorara um pouco mais que o comum para se levantar,
e só o fizera com o apoio de um auxiliar da empresa organizadora do
evento. Passo a passo, com um sorriso indescritível no rosto, a
jovem foi conduzida até a mesa das autoridades para receber o
diploma simbólico. O público, que até agora estava ali apenas
esperando o momento de felicitar seus parentes, iniciou uma salva de
palmas arrebatadora. Todas as pessoas estavam surpresas e admiradas
com a cena: uma jovem com deficiência visual recebendo o grau de
pedagoga das mãos do representante da universidade. Muitos
pensamentos ganharam os ares do anfiteatro. Provavelmente os mais
objetivos e práticos pensavam: "mas como ela conseguiu?"
"como conseguia estudar nos livros?" "como fazia as
provas?". Outros, cépticos e insensíveis, que sempre pensam
que ninguém consegue sucesso por merecimento próprio, certamente
pensavam: "Ela deve ter recebido ajuda dos professores, que se
apiedaram de sua condição..." Ou também, "devem ter
facilitado sua vida para que ela pudesse conseguir."
Muitos
outros estavam simplesmente com uma expressão de admiração em suas
faces emocionadas. Sensibilizados compreendiam que aquilo era
possível: uma jovem cega se formar na universidade. Sua comemoração
após receber o diploma foi vibrante, digna de uma verdadeira
vencedora. O cerimonial então seguiu, reservando mais uma surpresa
para depois. As homenagens dos alunos, na forma de pequenos discursos
tiveram seu início. Na primeira delas, a homenagem a Deus, lá
estava ela novamente, levantando-se lentamente e sendo guiada até o
púlpito. Havia um brilho especial em seus olhos. Uma alegria
radiante vinda de um espírito que enxergava melhor do que todos
aqueles que estavam ali, que viam apenas com o sentido da visão.
Sua homenagem a Deus foi emocionada e singela. Seus dedos passavam
suavemente sobre os pequenos pontos em relevo da folha de discurso,
pontos esses criados por um outro jovem, o francês Luís Braile, no
século dezenove, que se tornaram uma das janelas de acesso ao mundo
para os deficientes visuais. Suas palavras eram claras, sua dicção
perfeita, e sua mensagem divina. Ela agradecia a Deus por estar a seu
lado naquela conquista, e seu coração mostrava ao mundo o
verdadeiro amor ao criador, através de sua resignação e
perseverança na existência. Ela dizia, para "aqueles que não
podem ver", que tudo é possível se persistirem, se lutarem e
não desanimarem. Ela dizia, sem precisar de palavras, apenas com sua
presença ali, que há muito mais beleza neste mundo do que podemos
imaginar, e que "sonhar" sempre será preciso. Ela dizia
isso para aqueles todos que estavam ali, e que ainda não haviam
aprendido realmente a "ver"...
Equipe de Redação do
Momento Espírita.
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