SE ELES SOUBESSEM • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

SE ELES SOUBESSEM •  J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

Os poemas de Maria Dolores têm a simplicidade, a forma e o ritmo largo de Rodrigues de Abreu em “Casa destelhada”. Para a poética atual são expressões do passado. Não usam figuras audaciosas, nem jogo de palavras ou subentendidos. Mas isso porque Maria Dolores não pretende fazer simplesmente poesia, muito menos a poesia de efeitos gráficos e, portanto, sensorial dos nossos dias. Longe de querer participar da chamada “poesia de vanguarda”, o que ela pretende é servir-se do verso espontâneo, quase na forma de prosa rimada, para comunicar-se com os homens e transmitir-lhes as suas experiências da vida espiritual.
O poema “Eles não sabem” é um belo exemplo disso. E se não tem atualidade poética, tem oportunidade ética. Publicamo-lo no momento certo, como um legítimo aparte do além nos diálogos da Terra. E depois de lê-lo podemos replicar ao seu título com o título desta crônica. Sim, porque se eles soubessem – eles, os que ferem, injuriam, condenam, ofendem – “que o tempo restitui, em conta viva e certa, todo o bem que se dá e todo o mal que se fez”, certamente prefeririam a prática do bem.

Expressiva a maneira por que ela repete o ensino evangélico do perdoar setenta vezes sete, acentuando: “Para ofensa que surja e ofensa que ressurja, perdoa, esquece e ampara, outra vez e outra vez...” Porque as ofensas surgem e ressurgem, sempre as mesmas, na boca dos que negam e acusam. Perdoá-las e esquecê-las é amparar os ofensores, evitando que eles se afundem na semeadura do joio. A fonte que passa, cristalina, fecundando a terra e espelhando o céu, desvia-se da pedra que se lhe atira à face e continua a cantar. Se a fonte parasse, ofendida, para enfrentar a pedra agressiva, o seu curso benéfico seria interrompido sem nenhum resultado, pois as pedras surgem e ressurgem constantemente no leito das águas.

Chico Xavier segue o exemplo da fonte há[mais de] quarenta anos. Os seus inimigos de sempre –  e sempre gratuitos – repetem sem cessar as mesmas injúrias através do tempo. Mas  Chico é a fonte que não pára, como se nada houvesse e nada o alterasse.

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"  do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

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