O AMOR ESPIRITUAL – PARTE III

O AMOR ESPIRITUAL – PARTE III

O mundo não se diviniza por supressões, mas por sublimação. Sua santidade não é feita por eliminação mas por concentração das seivas da Terra. Assim se realiza, uma nova ascese - muito mais laboriosa, mas mais compreensível e operante que a antiga - a noção do Espírito-Matéria. Sublimação: então conservação; mas também, e mais ainda, transformação. Se é verdade que o homem e a mulher se unirão tanto mais a Deus, quanto mais se amarem um ao outro - não é menos certo que quanto mais se unirem a Deus, mais se verão conduzidos a amar-se de maneira mais sublime. Em que direção imaginaremos que  se  efetuará  essa  evolução  ulterior  do  amor? Sem dúvida para uma diminuição gradual do que ainda representa (e necessariamente) o lado admirável, mas transitório, da reprodução. A Vida nós o admitimos, não se propaga apenas por propagar-se, mas para acumular elementos necessários à sua personalização. Então, quando se aproximar para a Terra a maturação de sua Personalidade, os Homens terão que reconhecer que para eles não haverá simplesmente a questão de controlar os nascimentos; mas que importa sobretudo dar plena expansão à quantidade de amor, liberto do dever da reprodução. Sob a pressão dessa nova necessidade, a função essencialmente personalizante do amor se desligará mais ou menos totalmente do que foi, em certo tempo, o órgão da propagação, a "carne".
Sem cessar de ser físico, para ficar no físico, se fará mais espiritual. O sexo, para o homem, se expandirá no puro feminino. Não é este na realidade o sonho mesmo da castidade? Pelo amor do homem e da mulher, liga-se um fio que se prolonga diretamente ao coração do Mundo", (página 91 a 97): (todos os grifos são nossos).
Mas reproduzamos mais algumas linhas, da mesma obra: "O Amor é a mais universal, a mais formidável  e  a  mais  misteriosa  das  energias cósmicas" (pág. 40). E ainda:  "É  o  universo  que  realmente caminha para o homem através da mulher: toda a questão (questão vital para a Terra ...) é que eles o saibam" (pág. 41). E mais: "Que o homem perceba a Realidade Universal que brilha espiritualmente através da carne, e descobrirá a razão do que, até então, o decepcionava e atrapalhava seu poder de amar. Diante dele está a mulher como a atração e o Símbolo do Mundo: ele só poderá abraçá-la, engrandecendo-se por sua vez até a medida do Mundo" (pág. 194). E: "a lei geral e suprema da moralidade é: limitar a força (o amor), eis o pecado" (pág . 134).
No momento supremo da união das Centelhas, há um átimo em que as criaturas se sentem "morrer", desaparecendo a consciência da personalidade; nesse átimo sublime o centro da existência se fixa no coração e  "a  personalidade  se  transforma  em  impersonalidade", sentindo,  a seguir, a sensação de "haver nascido de novo". Estas últimas expressões aspeadas são de outro autor, Paul Brunton (em sua obra "À la Recherche du Soi Suprême"). Aí ainda lemos (pág. 239): "Se o Ser Supremo não fosse a mais alta forma de felicidade possível para o homem, este nada aproveitaria de seus prazeres; com efeito, no instante em que o prazer atinge o clímax, esse é o instante em que ele abandona, ao mesmo tempo, seu desejo que está satisfeito e o ego, que está na raiz do desejo: então, involuntariamente, no espaço de um  relâmpago,  ele  faz  a  experiência  da  Supraconsciência. Nesse instante experimenta o mais alto grau de prazer que lhe possa dar a realização de um desejo particular.. Mais adiante escreve esclarecendo sua idéia: "O ponto essencial a fixar, é que num relâmpago repentino de desapego (depois que o prazer sensual ou o desejo está satisfeito), numa fração infinitesimal de segundo, surge docemente essa suprema felicidade que a alma do homem irradia. A sensação de desaparecimento do eu pessoal  produz  um  estado  extraordinário  e  único de libertação. No momento em que o desejo é satisfeito o eu se sente livre de um fardo e por certo tempo, o mental volta realmente à sua fonte secreta, e experimenta a felicidade da Supraconsciência (pág. 240)”.
Ora, se isso ocorre com os homens comuns, sem que eles o saibam, que não ocorrerá com aqueles que já experimentaram o Encontro Sublime?
De tudo isso se conclui, finalmente, que Jesus sabia o que dizia, quando afirmou: "O que Deus uniu, o homem não separe".

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