A CULTURA ESPÍRITA • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

A CULTURA ESPÍRITA  •  J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

Duas coisas ficaram bem claras nesse trecho da entrevista de Chico Xavier: 1) Os cursos de espiritismo são necessários e os cursos de nível universitário devem ser organizados “o mais depressa possível”; 2) A modalidade superior da educação espírita tem por fim a “dinamização da ideia espírita” e a “intensificação dos valores culturais da doutrina”. Essas são afirmações textuais de Emmanuel, como podemos ver acima, feitas através de Chico Xavier. 
Esses trechos constam da entrevista gravada com o médium, feita em Uberaba, por ocasião do primeiro aniversário do programa No Limiar do Amanhã. No segundo trecho, que começa assim: “Diz Emmanuel”, o entrevistado teve a confirmação do espírito para a sua tese de que estamos na fase histórica de desenvolvimento da cultura espírita no mundo, sendo necessário que nos interessássemos pela criação de escolas espíritas no nível superior, destinadas a dar aos jovens uma formação espírita em sólidas bases culturais.
Ao referir-se ao sentido humano da doutrina espírita, Chico Xavier fez uma digressão para afirmar a necessidades de encararmos os espíritas, e particularmente os médiuns, os divulgadores e os dirigentes espíritas, como criaturas humanas e não como anjos. Voltando a tratar do problema educacional, ele acentuou de novo esse problema, mostrando que somos "seres terrenos" e precisamos de cursos para estudar a doutrina como “seres terrenos”.
Essas acentuações do problema cultural-espírita em termos esclarecem o erro, engano dos que pretendem manter a educação espírita apenas em termos espirituais, como se não estivéssemos encarnados na Terra e não tivéssemos a obrigação de absorver a cultura do mundo juntamente com a cultura espírita, para que esta ilumine e amplie as dimensões daquela.
O espiritismo não pode ser encarado como uma doutrina divina, desligada do contexto cultural terreno. Essa a razão porque “devemos esquecer as heranças menos construtivas das religiões tradicionais”, pois que elas estabeleceram uma divisão prejudicial entre a cultura religiosa e a cultura mundana. O espiritismo não é apenas uma revelação espiritual, como esclareceu Kardec, mas uma dupla revelação, divina e humana, que se entrosa num processo histórico único e representa um momento de síntese da evolução cultural do homem.
Uma escola de espiritismo de nível universitário estabelece a fusão entre o saber humano e o saber que a ciência do espírito nos proporciona através do espiritismo. Por outro lado, essa escola superior, que se constitui de cursos regulares para a formação do “novo homem”, não pode funcionar de maneira aleatória, sujeita à disponibilidade eventual de professores diletantes, mas necessita de um corpo docente organizado em bases profissionais, da mesma forma que um hospital espírita precisa contar com serviços de médicos e enfermeiros profissionais, sob pena de não atingir a sua finalidade. Daí a afirmação de Emmanuel de que “precisamos encarar esse assunto com espírito de muito realismo”.

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença" do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970. 

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