A LÂMPADA ACESA - J. Herculano Pires

A LÂMPADA ACESA •  J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

A vida pode escurecer ao nosso redor, mas se mantivermos a lâmpada acesa os contornos das criaturas amadas não desaparecerão nas trevas. O entendimento é a lâmpada mental que carregamos no escafandro do corpo, como o escafandrista carrega a sua no fundo do mar. Deixemos que a lâmpada se apague e não veremos mais nada ao nosso redor.
O mundo em mudança é como um dia de eclipse solar. Quando menos se espera o sol se apaga no céu e as trevas invadem a Terra. A evolução se acelera em nossos dias e o carro da vida se precipita em solavancos e curvas inesperadas. Precisamos de equilíbrio e firmeza para nos manter em nosso lugar e da luz do entendimento para clarearmos o caminho.
Em casa, com os familiares; no serviço, com os companheiros; na rua, com a multidão; a todo o momento nos defrontamos com surpresas atordoantes. Os costumes se modificam, a velha rotina se quebra, as normas do relacionamento humano se subvertem. É o mundo que está mudando e, por mais que tudo nos pareça errado, a verdade é que ele muda para melhor, sob o impulso irrefreável das leis da evolução.
Até agora nos orientamos – apesar das lições milenares do Evangelho – pela moral egocêntrica da importância pessoal. Os conceitos de honra e dignidade que cultivamos são heranças bárbaras. O melindre, a susceptibilidade exagerada, o autorrespeito doentio, a autoconsideração orgulhosa, criavam conflitos insanáveis por toda parte. Esposas e filhos não eram companheiros, mas escravos e às vezes até mesmo objetos. Falávamos em indulgência e compreensão, mas como tiranos que só as desejassem para si mesmos.
Hoje a evolução nos força a compreender que somos todos interligados por dependências de ordem moral e espiritual. Precisamos compreender os outros, entender as situações alheias e auxiliar sempre para sermos também auxiliados. Os imperativos da indulgência decorrem da necessidade de convivência. Compreender, perdoar e ajudar é a única maneira de cumprirmos os nossos deveres de pais, de filhos, de irmãos, à luz dos princípios cristãos.
Um século e mais de uma década após a mensagem de José, na França, Emmanuel precisa nos dar uma nova mensagem a respeito da indulgência, procurando acordar-nos para mantermos a lâmpada acesa. 

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença" do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

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