CONHECENDO O VELHO PAI

CONHECENDO O VELHO PAI

Filho, acorda! São oito horas! Você vai se atrasar!
De um salto, o rapaz se levantou. Contudo, logo se deu  conta que era seu primeiro dia de férias. Atrasar para  quê, mãe? Para pescar com seu pai.
O jovem perdeu todo o entusiasmo. Sim, ele prometera,  quando estivesse em férias, pescar com seu pai. Mas,  tinha que ser logo no primeiro dia de férias? Enfim,  ele foi, mesmo a contragosto.
Sentado ao lado do pai, que dirigia, cantando, ele
pensava em como seu pai estava ficando velho e meio  lelé. Ficava cantando músicas antigas, ria, conversava  e conversava. Finalmente, chegaram. Quer dizer, o  carro estacionou, mas o pai disse que ali não era local apropriado para pesca. Só dava peixe pequeno.
Andaram durante duas horas, no meio de mata densa, até  chegar ao pesqueiro secreto do pai. Claro que é  secreto, falou o rapaz, incomodado. Ninguém, a não ser  você vem aqui. Nem os peixes. Isso é o que você pensa! – Falou o pai. Aqui é que se  reúnem as maiores tilápias da represa. E, disposto,  colocou botas altas, calças impermeáveis e entrou na  água para cortar o mato que tomava conta quase total do lago. Tudo aquilo estava parecendo muito doido ao  filho. Que graça podia ter tudo aquilo? Quando o pai  preparou a vara e jogou o anzol, ele não aguentou e  falou:
***
Pai, estou preocupado com você. Essa maluquice de vir  até este fim de mundo para pescar tilápias. E a mamãe  falou que você nunca volta com peixe. Já pensou em  procurar um psicólogo? Estou ótimo, falou o pai. O Freitas, que vem sempre  aqui comigo, é psicólogo. O Tavares é psiquiatra. Nesse momento, ele sentiu a fisgada no anzol, puxou a  linha e lá estava ela: uma grande tilápia.
O rapaz estava surpreso. Pai, você já pescou peixe  grande assim, antes? Sempre, meu filho. Mas eu nunca  vi você levar para casa nenhum. Eu vou mostrar por  que, falou o pai. E fotografou o filho segurando o  peixe. Depois, pegou a tilápia e a devolveu à água. Eu pesco por prazer, não para encher a barriga. Aquilo sim era legal, pensou o filho.
O resto do dia  passou pescando com o pai. E devolvendo às águas o que  pescava, depois de fotografar. Vá procurar o seu  irmão, dizia, soltando o peixe. Ao final do dia, no  retorno ao lar, confessou que fazia tempo que não se  divertia tanto. Aquilo sim, era radical.
À noite, enquanto se preparava para dormir, pensou que  seu pai não tinha nada de louco ou de desequilibrado. Seu pai sabia viver. Seu pai era um gênio. E ele descobrira naquele dia.
*   *   *
Você já se dispôs a passar um dia inteiro ao lado de seu velho pai, bebendo da sua sabedoria? Já tentou puxar conversa dos tempos em que ele passava brilhantina no cabelo para ir namorar sua mãe?
Você já pensou que seu pai também foi moleque, adolescente, rapaz? Que teve sonhos? Olhe seu velho com esses olhos de quem valoriza a  experiência, os anos da madureza, as lutas que lhe  nevaram os cabelos. E, sem receio, abrace seu velho,  agradeça por todos os dias de alegria que ele lhe proporcionou. Faça isso. Mesmo que seja pela primeira  vez. Hoje, enquanto é tempo e ele está ao seu lado.
 
Redação do Momento Espírita com base na história Meu  pai... o rei do peixe, de Maurício de Sousa, da  Revista Cebolinha, nº. 224. Disponível no cd Momento  Espírita, v. 19, ed. Fep. Em 10.08.2011.

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