REFAZIMENTO - Epifânio Leite

Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires
Edição 64 | Dezembro de 2011

REFAZIMENTO • Epifânio Leite

(Versos dedicados à venerável irmã que conhecemos na realeza terrestre, há quatro séculos. Culta, não espalhou os benefícios da inteligência. Amiga incondicional dos amigos e inimiga implacável dos adversários. Generosa para com os áulicos abastados e indiferentes às vítimas da penúria.

Embora destacasse as vantagens da paz, incentivou, quanto pôde, as guerras de conquista e ambição. Agradecida aos vassalos obedientes, perseguia, até à morte, quantos não lhe observassem as diretrizes. Amada e odiada, alcançou o mais além e, à frente da verdade, preocupou-se com a redenção própria.

Regressou à Terra, várias vezes, apagando-se devagar, quanto ao brilho terreno que ostentava, até que rogou a prova final, em que a identificamos presentemente, habilitando-se no corpo enfermo e disforme, em acentuada penúria, para a ascensão próxima à espiritualidade superior.

A essa irmã admirável e valorosa, capaz de omitir-se e sofrer até a integral reparação da própria grandeza em si mesma, oferecemos aqui a nossa pálida homenagem, desejando-lhe plena vitória em Jesus e com Jesus.)

Vejo-te, soberana, aos painéis da memória!
O trono te emoldura a face de outras eras...
Oprimes sem temor, espancas onde imperas,
Fulges no fausto vão de vaidade ilusória!...

A paixão te esfogueia a fome de vanglória,
Exilas e destróis, humilhas e encarceras...
Vem a morte, no entanto, entre forças austeras,
E largas sob a cinza a pompa transitória!

Foi-se o tempo... Hoje te achei em catre duro e estreito,
Paralítica e só, parafusada ao leito!...
Chorei ao ver-te a choça e o triste quarto em ruínas!

Mas louvo o fel de agora ante o sol do futuro...
Pela dor subirás ao reino do amor puro,
Em teu carro estelar de açucenas divinas!

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