AS ASAS DO CONDOR • J. Herculano Pires (Irmão Saulo

AS ASAS DO CONDOR • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

Tobias Barreto foi o iniciador do movimento condoreiro na poesia nacional. Castro Alves tornou-se o representante máximo desse movimento. Mais voltado para a cultura geral, o direito e a filosofia, nem por isso o poeta sergipano deixou de bater as suas asas acima dos Andes. São essas asas que ele agora abre, como espírito, acima da Terra, num voo condoreiro pelo infinito.
Chico Xavier nos disse que o tema Deus é uma constante da poesia mediúnica de Tobias Barreto. Sem o perceber, o médium nos oferecia um dado valioso. O monista materialista do século passado, impregnado do monismo de Haeckel, continua a sustentar a sua concepção global do Universo, mas agora tendo por fundamento a ideia de Deus.
O soneto A quem? oferece-nos uma visão poética do monismo espírita, ao mesmo tempo em que ilustra – com suas imagens em forma de desenhos ou pinturas verbais – umas das mais altas intuições de Kant, que foi seu mestre em filosofia e direito – a de que o conceito de Deus é o mais elevado que o homem pode atingir. Nesse conceito, segundo Kant, temos a síntese do Universo. Por isso, o monoteísmo judaico propiciou o aparecimento e desenvolvimento no mundo do monoteísmo cristão, que deu origem à civilização ocidental.
Abrindo as asas de sua inspiração no infinito, o poeta condoreiro Tobias Barreto nos mostra, num alexandrino psicografado por Chico Xavier com extrema rapidez, que todas as manifestações da vida no Cosmos, desde o cântico das aves na Terra até o esplendor dos “astros vivos do azul”, se dirigem para um único alvo – que é Deus. O monismo filosófico de O Livro dos Espíritos encontra, nesse soneto de Tobias Barreto, uma das suas mais belas expressões poéticas.
Curioso notar que algumas palavras do soneto, como Lyra e orchestração, foram escritas assim no original psicografado, de acordo com a ortografia antiga. Não raro isso acontece com os poetas antigos, o que mostra a persistência do automatismo da escrita no espírito, que se manifesta como lembrança quando eles escrevem sob influência terrena, servindo-se das mãos de um médium. 
Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"  do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970. [Contextualizado por Walter de Carvalho]

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