O PASSE por José Herculano Pires
I — Suas origens, aplicações e efeitos
O
passe espírita é simplesmente a imposição das mãos, usada e
ensinada por Jesus como se vê nos Evangelhos. Origina-se das
práticas de cura do Cristianismo Primitivo. Sua fonte humana e
divina são as mãos de Jesus. Mas há um passado histórico que não
podemos esquecer. Desde as origens da vida humana na terra
encontramos os ritos de aplicação dos passes, não raro
acompanhados de rituais, como sopro, a fricção das mãos, a
aplicação de saliva e até mesmo (resíduo do rito do barro), a
mistura de saliva e terra para aplicação no doente. No próprio
Evangelho vamos a descrição da cura de um cego por Jesus usando
essa mistura. Mas Jesus agiu sempre, em seus atos e em suas práticas,
de maneira que essas descrições, feitas entre quarenta e oitenta
anos após a sua morte, podem ser apenas influência de costumes
religiosos da época. Todo o seu ensino visava afastar os homens das
superstições vigentes no tempo. Essas incoerências históricas,
como advertiu Kardec, não podem provir dele, mas dos evangelistas.
Caso, contrário, Jesus teria procedido de maneira incoerente no
tocante aos seus ensinos e seus exemplos, o que seria absurdo.
O
passe espírita não comporta as encenações e gesticulações em
que hoje envolveram alguns teóricos improvisados, geralmente ligados
a antigas correntes espiritualistas de origem mágica ou feiticista.
Todo o poder e toda a eficácia do passe espírita dependem do
espírito e não da matéria, da assistência espiritual do médium
passista e não dele mesmo. Os passes padronizados e classificados
derivam de teorias e práticas mesméricas, magnéticas e hipnóticas
de um passado já há muito superado. Os espíritos realmente
elevados não aprovam nem ensinam essas coisas, mas à prece e a
imposição das mãos. Toda a beleza espiritual do passe espírita,
que provém da fé racional no poder espiritual, desaparece ante as
ginásticas pretensiosas e ridículas gesticulações.
As
encenações preparatórias: mãos erguidas ao alto e abertas, para
suposta captação de fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os
joelhos, pelo paciente, para melhor assimilação fluídica, braços
e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos fluidos,
e assim por diante, só serve para ridicularizar o passe, o passista
e o paciente. A formação das chamadas pilhas
mediúnicas, com
o ajuntamento de médiuns em torno do paciente, as correntes de mãos
dadas ou de dedos se tocando sobre a mesa – condenadas por Kardec –
nada mais são do que resíduos do mesmerismo do século passado,
inúteis, supersticiosos e ridicularizantes.
Todas
essas tolices decorrem essencialmente do apego humano às formas de
atividades materiais. Julgamos-nos capazes de fazer o que não nos
cabe fazer. Queremos dirigir, orientar os fluidos espirituais como se
fossem correntes elétricas e manipulá-los como se a sua aplicação
dependesse de nós. O passista espírita consciente, conhecedor da
doutrina e suficientemente humilde para compreender que ele pouco
sabe a respeito dos fluidos espirituais – e o que pensa saber é
simples pretensão orgulhosa – limita-se à função mediúnica de
intermediário. Se pede a assistência dos Espíritos, com que
direito se coloca depois no lugar deles? Muitas vezes os Espíritos
recomendam que não se façam movimentos com as mãos e os braços
para não atrapalhar os passes. Ou confiamos na ação dos Espíritos
ou não confiamos e neste caso é melhor não os incomodarmos com os
nossos pedidos.
O
passe espírita é prece, concentração e doação. Quem reconhece
que não pode dar de si mesmo, suplica a doação dos Espíritos. São
eles que socorrem aqueles por quem pedimos, não nós, que em tudo
dependemos da assistência espiritual.
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