NO TRÂNSITO DA VIDA • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

NO TRÂNSITO DA VIDA • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)
Walter de Carvalho em 22 de novembro de 2014 às 20:51 ·

Emmanuel nos lembra que o trânsito da vida exige cuidado e atenção. Os sinais desse trânsito assemelham-se aos do trânsito de veículos. Quando temos pela frente o sinal verde podemos avançar tranquilos, mas nem por isso menos vigilantes. Quando surge o sinal amarelo da inquietação, devemos esperar.
Mas quando o sinal vermelho da impaciência nos barra violentamente o caminho, só nos resta parar, olhar com atenção para os lados, examinar a frente e a retaguarda, medir nossa posição e não nos precipitarmos em protestos e reclamações. Porque o trânsito, afinal, deve ter as suas regras, para que todos possam transitar em segurança.
A confusão do trânsito só pode prejudicar a nós mesmos e aos outros.
Estamos no século da velocidade e não gostamos de perder tempo. Emmanuel nos adverte, porém, que a velocidade resseca as engrenagens do veículo. O guincho rascante das ferragens traduz-se em angústia e aflição, quando se trata do veículo do corpo em seus atritos com os anseios da alma.
Podemos cair em desequilíbrio, provocar um desastre, entregar-no à estafa ou à perturbação. Tudo isso por falta do lubrificante da paciência, que podemos obter ao bom preço de um pouco de tolerância e compreensão.
Agitamo-nos porque as horas passam depressa e a vida é curta. Mas, quanto mais nos agitamos, mais aceleramos as horas e encurtamos a vida.
A palavra paciência tem origem na expressão latina patientia, que deriva de pati, sofrer, suportar o sofrimento. Isso talvez nos ajude a compreender o seu sentido. Se não suportamos com calma o que nos faz sofrer (ou os que nos fazem sofrer), faltamos com o bom senso e com a caridade.
Os que nos fazem sofrer estão sofrendo, seja por ignorância ou por maldade, e num caso como no outro, temos para com eles o dever moral da fraternidade.
Não vivemos isolados, mas em sociedade, e se queremos a paz e a felicidade, temos de ajudar os outros a encontrá-las. Isso não é fácil, bem o sabemos. O próprio Job, símbolo da paciência, amaldiçoou e blasfemou nas suas provas.
Mas a paciência é uma conquista que temos de realizar por meio da compreensão e do amor.
Quem não ama, não espera e nada suporta.

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença" do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

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