TEMPO DE VIVER • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

                                   TEMPO DE VIVER • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)
Walter de Carvalho em 6 de fevereiro de 2015·
Desde que o homem começou a pensar, a tomar consciência de si mesmo e do mundo, o problema do tempo o preocupou. Muitos equacionaram esse problema, mas ninguém o resolveu. O primeiro aforismo de Hipócrates aparece em latim na forma clássica de Ars longa, vita brevis que Camões repete neste verso: “Para tão curta vida, tão longa arte!”
O simpósio espírita semanal de Uberaba teria também de enfrentar esse problema, mas agora dispondo da solução espírita.
O Eclesiastes afirma que Deus fez tempo para tudo. Em A gênese de Allan Kardec, temos uma definição do tempo que nos mostra a sua relatividade. Esta concepção da relatividade do tempo se acentua na doutrina das vidas sucessivas, das existências palingenésicas que são solidárias entre si. Para cada existência, um determinado tempo – o tempo necessário à execução das tarefas que o espírito traz como sua incumbência inalienável na reencarnação.
Assim, o aforismo Ars longa, vita brevis corresponde apenas a uma visão limitada das coisas. Deus nos concede tempo para tudo, mas não nos exíguos limites de uma encarnação. Camões via a extensão infinita da arte, em que poderia criar sem cessar, mas se angustiava com o tempo exíguo de que dispunha. Não obstante, além dos limites existenciais, ele poderia dispor do ilimitado da vida que se amplia na duração em termos de imortalidade. Assim como o dia é curto para a execução de um trabalho, mas podemos prolongá-lo com o dia seguinte, assim acontece na sucessão das encarnações.
As filosofias da existência nos reclamam atenção para o aqui e o agora, mas o existencialismo espírita, valorizando essas categorias no momento que passa, não se esquece de que já dispusemos do ontem e disporemos do amanhã. No tempo anterior, no ontem, condicionamos o aqui e o agora à execução de determinadas tarefas e Deus nos concede hoje o tempo para isso. Se aproveitarmos bem o tempo concedido, ele não nos parecerá insuficiente. Se o esbanjarmos, condicionaremos o amanhã a novas angústias de tempo.
É assim que podemos entender os versos finais de Luciano dos Reis: "Deus dá tempo igual a todos / não menospreza ninguém." Reclamamos do tempo o que devíamos reclamar de nós mesmos, pois o que nos falta neste momento corresponde exatamente ao que esperdiçamos ainda há pouco. Se aproveitarmos com inteligência e cuidado cada minuto que passa, veremos que Deus nos concedeu tempo para tudo o que temos realmente de fazer nesta vida. 
Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença" do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.
FONTE: Fundação Maria Virginia e J.Herculano Pires Edição 57 de Outubro de 2011

Comentários